Paradoxo ou oxímoro é uma figura de linguagem, mais precisamente uma figura de pensamento baseada na contradição. Possui conceitos amplos, com algumas subdivisões:
Paradoxo verídico: possui fundamento em um raciocínio lógico que conduz a resultados incertos;
Paradoxo condicional: construções paradoxais que dependem da relação causa e consequência contínua (a resolução de um fato sempre leva a outro problema);
Paradoxo falsídico: paradoxos com resultados falsos (baseado em raciocínio falso).
Existem outros, mas os dois paradoxos mais famosos são:
Paradoxo de Fermi
Tem relação com a indagação feita pelo físico italiano Enrico Fermi durante um debate com outros estudiosos nos idos dos anos 1950. Trata-se da discrepância existente entre a enorme probabilidade de existir vida em outros planetas (considerando o enorme número de planetas no Universo) e a inexistência de evidencias de vida fora da terra.
Paradoxo de Epicuro
Basicamente tem relação com uma série de análises lógicas que concluem sobre a impossibilidade da existência do Mal concomitantemente com a de um Deus bondoso, onipotente e onisciente na mesma realidade. Um ensaio Epicuristas conhecido consistem em: se Deus é onisciente e onipotente, então possui conhecimento da existência do Mal (pela onisciência) e poder para acabar com ela (pela onipotência), logo, se não o faz não pode ser onibenevolente, pois não estaria sendo absoluta e ilimitadamente bondoso ao permitir o Mal. Conclui então que: existindo o Mal, sendo Deus onisciente e onipotente, não pode ser onibenevolente.
Mas vamos ao paradoxo dos profissionais de Segurança do Trabalho
Você leva seu carro numa oficina mecânica. Explica para o mecanico que está com problemas nos freios (os freios não obedecem e a frenagem demora mais tempo para parar o carro). Daí o mecanico pega um check list numa prancheta e uma caneta para tentar descobrir o problema:
1-Verificar se há vazamento do fluido de freio: ( ) Sim; (X) Não; ( )NA;
2-Verificar se o nível do fluido de freio está abaixo do especificado: ( ) Sim; (X) Não; ( )NA;
3-Verificar se há desgaste das pastilhas de freio além do especificado: ( ) Sim; (X) Não; ( )NA;
4-Verificar se há desgaste do disco de freio além do especificado: (X) Sim; ( ) Não; ( )NA;
5-Verificar se o freio está desregulado: (X) Sim; ( ) Não; ( )NA;
-“Pronto. O problema é do desgaste do disco de freio e da regulagem do sistema de freios”, diz o mecanico.
Você confiaria em um mecanico desse?
Outro exemplo.
Você vai ao médico com uma dor na região lombar. Daí o médico pega um check list e começa a examinar:
1-Perguntar de o paciente sofreu alguma queda, batida ou pancada na região afetada: ( ) Sim; (X) Não; ( )NA;
2-Verificar se não há manchas, edemas ou deformidade na região afetada: ( ) Sim; (X) Não; ( )NA;
3-Auscultar a função pulmonar do paciente, pedindo para ele respirar e soltar o ar devagar entre os dentes e verificar presença de chiados e outros ruídos estranhos ( ) Sim; (X) Não; ( )NA;
4-Solicitar um exame de imagem da região afetada a fim de verificar possíveis tumores ou outras anomalias: (X) Sim; ( ) Não; ( )NA;
-“Pronto, descobrir o seu problema”, diz o médico.
Você confiaria em um médico desse?
Mas e se fosse um Técnico ou Engenheiro de Segurança do Trabalho inspecionando locais de trabalho? Você confiaria?
Um profissional leigo em sua própria área ao ponto de precisar de um check list para fazer o seu trabalho? Isso é normal?
Um check list não consegue prever todas as situações, atividades e tarefas que geram riscos. Apenas com uma análise mais detalhada e olhar de um profissional é possível reconhecer, identificar e tratar todos os riscos existentes no ambiente e nas atividades e operações realizadas pelos trabalhadores. Como serão identificados e tratados os riscos ocultos que não constam ou não podem ser reconhecidos com a aplicação do check list? Em caso de acidente grave ou fatal causado por risco não reconhecido (principalmente graus de risco 3 e 4), quem vai pagar esse mico?
Nos idos da década de 80, quando o Engenheiro da obra me passou pela primeira vez um check list para realizar a inspeção de uma obra, me senti mal, muito mal. Isso é um insulto à inteligência e uma depreciação do profissional. Desacreditar a capacidade do profissional dessa forma é um constrangimento e uma vergonha sem tamanho.
Por que um Técnico de Segurança precisaria de um check list? Preguiça de ler a norma? Curso precário ou mal feito? Comprou o diploma? Dificuldade de interpretação de texto (analfabetismo funcional)?
Profissional de Segurança do Trabalho capacitado deve conhecer as NR de cor e salteadas e ter capacidades e habilidades necessárias para elaborar um relatório com todas as ações corretivas no imperativo. Ex.:
-Instalar guarda-corpos periféricos circundantes da terceira laje (se necessário, especificar as características dos guarda-corpos, inclusive com desenhos);
-Instalar tapumes de fechamento vertical nos acessos aos poços dos elevadores em todos so andares;
-Instalar aterramento elétrico na máquina tal, etc
Às vezes os gestores pedem para que eu explique porque estou cobrando determinadas ações (principalmente as ações que possuem alto custo). Eu envio as provas das obrigações legais sem problema. Mas se isso se torna uma rotina (tudo que eu coloco no relatório pede para provar), encerro o contrato. Se não sou um profissional confiável não posso trabalhar na empresa. O relatório é a conclusão da inspeção, análise, pesquisa, determinação e indicação das medidas preventivas necessárias e suficientes para cada não conformidade ou risco detectado, realizado por profissional capacitado e habilitado. Não tenho que provar nada. Ou confia ou chama alguém confiável. Fim. Pior que tamanha desvalorização tem a conivência de alguns dos profissionais.
A muleta técnica conhecida como check list é para leigos. Um operador de máquinas deve utilizar um check list para vistoriar a máquina, já que não é mecanico e nem da área de segurança do trabalho, mas não pode utilizar para operar a máquina, já que é operador da máquina e tem obrigação de saber operá-la. O mestre de obras ou encarregado precisa de um check list para inspecionar as condições de segurança da obra, mas não precisa para inspecionar formas, ferragens, concreto, etc É uma questão apenas de senso comum que alguns estão indo no contrassenso. Profisisonais devem saber o que estão fazendo em sua área de atuação. E isso implica em conhecimentos e habilidades técnicas, científicas e legais. O paradoxo dos Profissionais de Segurança do Trabalho é não possuir conhecimentos e habilidades técnicas, científicas e legais em sua própria área de formação e atuação, que teriam obrigação de possuir. Uma contradição paradoxal.
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