Emprego de defensivos derivados do ácido carbônico – Por Heitor Borba
O Anexo 13 da NR-15 – Insalubridade de Grau Médio – Hidrocarbonetos e Outros Compostos de Carbono[1] , nos traz uma questão que confunde muitos profissionais da área ocupacional em relação à insalubridade devido ao “emprego de defensivos derivados do ácido carbônico”.
O ácido carbônico é um diácido (H2CO3) formado por meio da solução de dióxido de carbono e água. O ácido puro não pode ser isolado. No entanto, é possível produzi-lo em soluções de éster a menos 30 graus Celsius, dando origem a dois sais: carbonatos e hidrogeno-carbonatos. O ácido carbônico é um composto considerado como fraco, instável, diácido (apresenta dois hidrogênios ionizáveis na sua estrutura) e é produzido por meio da diluição de gás carbônico em água (por isso, não pode ser isolado em sua forma pura): [2]
CO2 (dióxido de carbono) + H2O (água) => H2CO3 (ácido carbônico)
O ácido carbônico está presente em:[2]
CHUVAS
Formado pela dissolução do gás carbônico da atmosfera através da água da chuva, alterando o pH das precipitações pluviométricas devido a presença do ácido (considerado fraco), sem danos aparentes ao meio ambiente (por enquanto).
SANGUE HUMANO
Nesse meio o ácido carbônico participa do principal sistema de tamponamento (solução tampão), reagindo com o bicarbonato do sangue, que é um sal mais fraco. As soluções chamadas tampão têm a função de impedir variações de pH na corrente sanguínea (o pH do sangue deve ser sempre neutro). Alterações no pH sanguíneo (seja para ácido ou base) pode trazer sérias consequências ao organismo. Também, as consequentes trocas gasosas podem ser prejudicadas e as proteínas podem ser desnaturadas nesse processo.
REFRIGERANTES
Os refrigerantes utilizam o ácido carbônico como componente fundamental característico das bebidas gasosas. Formado por meio da mistura de gás carbônico e água, o ácido carbônico dos refrigerantes confere a essa bebida boa aparência e sabor agradável. Outras bebidas como águas gaseificadas, bebidas tônicas e cervejas também possuem ácido carbônico em sua composição.
Apesar de ser utilizado nas bebidas gaseificadas, em sua forma pura, foi incluído na relação dos insalubres de grau médio. Mas a legislação faz referência aos derivados do ácido carbônico e não ao ácido carbônico propriamente dito.
Os carbamatos, não incluídos nesse rol, podem integrar os demais produtos constantes da lista
elencada no item do Anexo 13.
Os carbamatos disponíveis no mercado são:[3]
ü Aldicarb (Temik®);
ü Aminocarb (Metacil®);
ü Carbaril (Sevin®);
ü Carbofuran (Carboran®, Furadan®);
ü Landrin (Landrin®);]
ü Metacalmato (Bux®);
ü Metiocarb (Mesurol®);
ü Metomil (Lannate®, Nudrin®);
ü Mexacarbato (Zectran®);
ü Propoxur (Baygon®, Unden®) (CCIn, 2000).
As categorias principais de produtos com usos similares (mas quimicamente bastante diferenciados) podem ser agrupados em quatro categorias principais:[4]
a) Organoclorados;
b) Piretróides;
c) Organofosforados;
d) Carbamatos.
Os compostos integrantes da categoria dos organofosforados e dos carbamatos apresentam mecanismo comum de ação, com base na inibição da acetilcolinesterase. São os organofosforados e os carbamatos os produtos responsáveis pelo maior número de intoxicações no meio rural.
“O grupo dos carbamatos é formados por derivados do ácidos N-metil-carbâmico e dos ácidos tiocarbamatos e ditiocarbamatos(2). Os carbamatos têm baixa pressão de vapor e pouca solubilidade em água, são moderadamente solúveis em benzeno e tolueno, e altamente solúveis em metanol e acetona, dentre os carbamatos mais conhecidos atualmente está o aldicard (Temik®), este de coloração cinza chumbo, sem odor característico é conhecido popularmente por “chumbinho”” (Morais & D’Amaral, 2007)[5]
Os inseticidas a base de carbamatos exercem suas ações biológicas por inibição das enzimas esterases. As ações sobre a acetilcolinesterase (AChE) degradam os neurotransmissores acetilcolina (ACh). Os carbamatos inativam a acetilcolinesterase temporariamente. Desse modo, os praguicidas à base de carbamatos são menos perigosos que os organofosforados, do ponto de vista das exposições ocupacionais. Possui ação menos danosa no Sistema Nervoso Central – SNC.[3]
No entanto, os derivados do ácido carbônico podem formar produtos altamente tóxicos: O fosgênio (COCl2), por exemplo, que é um gás venenoso usado em expurgos e até como “gás de guerra”, quando inalado, reage com a água dos pulmões para formar ácido clorídrico, o que é fatal.
Apesar de o ácido carbônico ser responsável pelas gostosas eructações provocadas pela ingestão das bebidas gaseificadas, nas exposições ocupacionais seus derivados nãos são tão agradáveis assim. Há necessidade de definição e execução de medidas preventivas para reduzir ou neutralizar (de preferencia) o contato entre o agente nocivo e o trabalhador, através das Tecnologias de Proteção Contra Acidentes disponíveis. Os EPI e alguns procedimentos básicos podem ser lidos nas embalagens dos produtos. No entanto, há necessidade de uma gestão de riscos eficaz destinada a prevenção de acidentes nos trabalhos com emprego de defensivos derivados do ácido carbônico.
Webgrafia:
[1] Anexo 13 NR-15
http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR15/NR15-ANEXO13.pdf
[2] Ácido carbônico
http://www.infoescola.com/quimica/acido-carbonico/
http://www.uff.br/WebQuest/downloads/cap17.pdf
[3] Carbamatos disponíveis no mercado
http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/mXII.orga.htm
[4] Categorias principais de produtos
http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102001000200005&lng=pt&nrm=iso
[5] http://www.unisa.br/graduacao/biologicas/enfer/revista/arquivos/2007-13.pdf
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