Prática de DDS/DSS – Por Heitor Borba
Diálogos Diários de Segurança (DDS) ou Diálogos Semanais de Segurança (DSS) podem ser excelentes ferramentas da Segurança Comportamental no Trabalho, se aplicadas corretamente.
Para serem preventivos, os DDS (que os mais chiques chamam de briefings) devem ser focados na prevenção de acidentes de trabalho, como ferramenta complementar da gestão de riscos. Por isso sempre devem ser realizados antes do início das atividades e focar na realidade ocupacional imediata da organização. Significa dizer que DDS realizados com base em material retirado da internet, com valorização do tema, não funcionam. Os DDS devem ser voltados inteiramente para as falhas ou possíveis falhas ocorridas ou com possibilidade de ocorrer. Os DDS funcionam como um aparador das arestas deixadas pela gestão.
Profissionais que precisam pegar temas prontos para serem utilizados nos DDS recaem em umas das opções abaixo:
a) Não sabem o que estão fazendo;
b) Estão fazendo um trabalho não preventivo;
c) Estão utilizando esse material apenas como enriquecimento de informações já ministradas;
d) Não há desvios de comportamento na unidade de trabalho (possibilidade quase impossível na maioria das organizações).
Para que os DDS sejam eficazes devem ser elaborados e direcionados exclusivamente para os eventos que os motivou e tratadas as causas que levaram ou que podem levar ao comportamento de risco (ativadores-antecedentes). Nesse contexto, há necessidade de definição dos objetivos do DDS:
a) DDS proativos ou preditivos;
b) DDS corretivos ou reativos.
DDS PROATIVOS OU PREDITIVOS
Esses DDS buscam a antecipação, identificação e prevenção de possíveis problemas ou ocorrência de eventos indesejados durante a execução das atividades ou operações. São elaborados com base nas Análises Preliminares de Riscos (APR) das atividades ou operações a serem realizadas ou em execução.
DDS CORRETIVOS OU REATIVOS
O DDS corretivo ou reativo ocorre quando o DDS proativo ou preditivo falha. Nesse tipo de DDS é fundamental também identificar as causas que levaram aos eventos indesejados, além da prescrição dos procedimentos corretivos ou solução. Evento indesejado é qualquer ocorrência não programada durante a execução das atividades ou operações.
Em se tratando de SST, evento indesejado pode ser:
-Passagem de trabalhador sob área de risco de queda de materiais;
-Permanência de trabalhador em altura sem acoplamento do cinto de segurança na linha de vida ou ponto de engaste;
-Retirada de capacete de segurança em área de risco para coçar a cabeça;
-Não utilização correta do EPI;
-Utilização ou colocação do EPI após entrar na área de risco ou transitar na área de risco sem fazer uso do EPI indicado;
-Não seguir algum procedimento operacional prescrito;
-Outros.
Os temas dos DDS corretivos devem focar sempre nos desvios de comportamento observados no dia anterior, no mesmo dia, ou preferencialmente, no mesmo instante da verificação da irregularidade. O ideal é que o profissional responsável saia a campo com um formulário “Lista ou Ficha de Presença, Alerta de Segurança” ou outro existente. E no momento da constatação da irregularidade, paralise as atividades do não conforme, passe as orientações necessárias, preencha o formulário específico, assine e solicite a assinatura do trabalhador advertido.
Exemplo:
Desvio comportamental observado: Trabalhador em altura utilizando a jugular do capacete aberta, não fixa ou folgada;
Ação preventiva: Paralisação das atividades e realização do Briefing;
Elaboração do documento (preenchimento da Ficha/Lista de Presença, Alerta de Segurança ou outro):
-Título: Orientação quanto ao uso correto do capacete de segurança com jugular;
-Assunto: Regulagem, colocação e ajuste do capacete e da jugular, verificação do uso correto, advertência e punições sobre uso incorreto;
-Tempo demandado: 05 cinco minutos;
-Data;
-Assinatura do responsável pelo treinamento e do trabalhador.
Desse modo, a não conformidade identificada é aberta ou registrada e tratada no mesmo instante da sua ocorrência, caso não precise de ações adicionais. No caso acima, por exemplo, as ações adicionais podem consistir em substituição da jugular ou da presilha de fixação, reinstalação da jugular de forma correta ou mesmo substituição do capacete de segurança em função de danos no encaixe da jugular. E assim temos a causa do comportamento não conforme provocada pela própria organização, em função de falhas na gestão de EPI (a solução deve apontar ajustes na gestão de EPI). Lembrando que os registros gerados valem ouro na esfera judicial, tanto na defesa da organização quanto na defesa do gestor do processo. Principalmente em caso de acidentes fatais.
Percebemos que enquanto os DDS proativos ou preditivos se destinam a prevenção da ocorrência de comportamentos críticos, fora do padrão ou não conformes, aplicados antes do início das atividades diárias, os DDS corretivos ou reativos devem ser aplicados sempre que se observar tais desvios. Esses DDS indicam falhas no sistema de gestão que devem ser corrigidos.
Na prática, os DDS servem para:
a) Prevenir e corrigir não conformidades comportamentais;
b) Ministrar procedimentos simplificados;
c) Esclarecer assuntos ainda sem assimilação satisfatória;
d) Advertir sobre possíveis desvios;
e) Informar sobre novos assuntos.
Em função do caráter preventivo dos DDS, percebemos que apenas quando a organização não possui atividades ou operações novas a serem realizadas (com novos riscos) e nem desvios comportamentais, é que se pode considerar temas prontos e não direcionados aos riscos existentes. DDS com temas prontos (como os retirados da internete) servem apenas como complemento ou enriquecimento das informações (e mesmo assim devem ser adaptados para a realidade da organização). Podem até servir como ferramenta de prevenção proativa/preditiva a que se destina o DDS, mas nunca como ferramenta de prevenção reativa/corretiva. Outro cuidado com os materiais retirados da internete é em relação ao autor. Profissionais sem vivencia no chão da fábrica são os que mais cometem erros. Alguns se destacam em função do Efeito Halo e não em decorrência do conhecimento. E o Efeito Halo se multiplica nos palestrandos na forma de Efeito Dunning-Kruger. Há também a praga das fake news. Já temos DDS utilizando esse tipo de material como base. Verifique a veracidade das informações antes de repassar. Mais atenção com isso.
Os temas dos DDS devem ser elaborados proativamente com base nos riscos e nos possíveis desvios de comportamento que possam ocorrer. Ou reativamente, com base na observação de desvios de comportamentos ocorridos e prescrição das medidas corretivas aplicáveis. DDS são termômetros da gestão de SST porque apontam para o nível da gestão implantada.
Fonte da imagem: Imagem de Clker-Free-Vector-Images por Pixabay
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