Os tentáculos das ideologias chegam nas organizações – por Heitor Borba
Ideologias podem trazer grandes prejuízos para pessoas e organizações. É preciso ficar atento as “certezas” que estão sendo pregadas pelos apologistas.
Pregação apologética ideológica tem importância apenas para quem acredita na ideologia defendida, podendo ser benéfica ou maléfica para o convertido. Para quem não acredita é um insulto à inteligência, além de perda de tempo. No entanto, quando as ideologias são aplicadas nas organizações a chance de dar certo é praticamente nula. Isso ocorre porque organizações são entidades hierárquicas e constituídas por pessoas que funcionam dentro de um organograma ou Staff. Desse modo, a aceitação da ideologia deixa de ser algo espontâneo, fruto do convencimento que leva indivíduos ao convertimento, e se torna algo imposto, obrigatório, detestável e sabotável. Convencimento é o reconhecimento acerca da “verdade” pregada e implica em acreditar no que foi pregado. Convertimento diz respeito a adesão do indivíduo a ideologia, implicando em mudança e transformação pessoal.
Temos que:
Apologia é um discurso através do qual se defende, explica ou elogia uma ideia.
Pregação pode ser definida como um discurso que busca convencer alguém sobre determinado assunto.
Então, pregação apologética ideológica pode ser definida como um discurso que busca defender e convencer alguém sobre alguma ideologia.
As ideologias mais pregadas defendem os seguintes temas:
1-Religiosos;
2-Políticos;
3-Ambientais;
4-Futebolísticos;
5-Sentimentais;
6-Pseudocientíficos;
7-LGBT+Besteiras
As falácias mais aplicadas na defesa das ideologias são:
1-Acentuação / Ênfase;
2-Ad Hoc;
3-Afirmação do Consequente;
4-Argumentum ad Antiquitatem;
5-Argumentum ad Baculum / Apelo à Força;
6-Argumentum ad Hominem;
7-Argumentum ad Nauseam;
8-Argumentum ad Numerum;
9-Argumentum ad Verecundiam;
10-Mudando o Ônus da Prova.
O leitor pode encontrar as explicações de algumas falácias aqui. Mas há muitas outras.
Percebemos que não existem provas ideológicas, mas apenas crenças, interesses ou convicções pessoais sobre o tema defendido. Ou seja, pregação apologética é ensinar ou defender algo em que se acredita, se quer acreditar ser verdade ou que se tem interesse na proposta ideológica, sem a preocupação de comprovar suas premissas. Ideólogos querem que todo mundo acredite em suas ideologias, mesmo que os próprios defensores não acreditem. Faz parte da valorização da ideia e fortalecimento dos interesses envolvidos. Defensores fanáticos de ideologias não conseguem debater, mas discutir, e geralmente acabam saindo as tapas com o pregador de outra ideologia (já vi muito isso acontecer). Tudo isso porque não há comprovação científica para as ideologias. Cada um defende aquilo que acredita ou quer acreditar. Quando a ideologia chega ao extremo do fanatismo, o energúmeno, mesmo apresentando a prova do contraditório, não aceita, recusa veementemente a lógica e a razão, finalizando com agressões verbais e físicas. Não se deve chegar a esse extremo. A argumentação só funciona enquanto o interlocutor aceita o Método Científico. Rejeitada a ciência, o proponente deve finalizar o debate e deixar o opositor sair que nem o pombo enxadrista.
Se eu digo que ao soltar o celular da minha mão ele vai cair e o opositor continua dizendo que não vai cair, mas flutuar (mesmo após apresentar as comprovações físicas, inclusive com experimento, soltando o aparelho), é hora de finalizar o debate em virtude do tal ser desprovido de razão. Parece um exemplo extremo de lógica, mas não é. O que mais temos nas mídias atuais são pessoas insultando a inteligência dos outros. As ideologias são as mais absurdas possíveis. Algumas dessas ideologias são apresentadas com algum teor erroneamente científico ou com carteiradas de autoridades no assunto para passar alguma credibilidade.
A verdade é que não tem gente mais chata do que pregador apologético ideológico. Enquanto são aceitos, elogiados e aplaudidos no meio ideológico do qual faz parte, são insuportáveis para aqueles que não compactuam com a mesma ideologia. Os debates se tornam impossíveis, considerando a impossibilidade de manter o apologista dentro dos parâmetros científicos. A crença e a paixão por alguma ideologia anulam a lógica e a razão. Se fosse possível debater racionalmente com ideólogos não teríamos tantos ideólogos enchendo o saco por aí.
No entanto, percebendo que as pessoas estão mais bem informadas, principalmente após as ações de combate às fake news, os apologistas ideológicos mudaram a forma da abordagem. As enganações agora estão sendo inseridas em cursos profissionalizantes, aulas, palestras, trabalhos e até provas escolares. Nas universidades estão sendo inseridas através das pseudociências. Com esse disfarce fica mais fácil empurrar goela abaixo alguma ideologia nas pessoas mais intelectualizadas. Até em eventos técnicos e científicos, colocam alguns profissionais sérios e empurram no meio um apologista de alguma causa (geralmente causas políticas, pseudocientíficas, ambientais ou religiosas), de modo a passar a ideia de que aquilo também faz parte do teor proposto pelos organizadores. A pergunta seria: o que isso tem a ver com o assunto? Mas ninguém faz essa pergunta, aceitam, se deixam enganar ou mesmo acreditam. Desse modo, os tentáculos das ideologias estão por toda parte e já chegaram também nas organizações. Quando vejo na relação de palestrantes de algum evento profissional ou científico o nome de algum filósofo, sociólogo, teólogo ou até mesmo (pasmem) astrólogo, já sei que vem besteira. Tive o desprazer de assistir a uma palestra sobre “Os benefícios da cromoterapia”, ministrada por uma psicóloga em um evento de Segurança e Saúde Ocupacional. Esses tais arriscam tudo, até a própria reputação, na defesa das suas ideologias. Temos até palestrante convidando astrólogo para elaborar o “mapa astral” da empresa, com direito a coaching quântico e outras idiotices. Não é questão de acreditar, mas de ter a inteligência insultada. Se temos “doutor” dando carteirada para defender uma determinada ideologia, temos também outros “doutores” fazendo a mesma coisa para defender ideologias contraditórias. Nenhum deles apresenta provas das alegações (estudos indexados e com revisão de pares). E os PhD que aparecem nesses meios estão mais para “Perigosa Hebefrenia Detectada” do que para especialistas em alguma ciência. Mas ninguém pensa nisso. Ou as pessoas gostam de ser enganadas ou estamos perdendo a capacidade de raciocinar…
Agora é praxe algum alienado ideológico ou interesseiro com alguma autoridade ou cargo de comando na organização (geralmente pública) contratar pregadores apologéticos e misturar em eventos sérios, como seminários, SIPAT, treinamentos e cursos de capacitação. Até os DDS (Diálogos Diários de Segurança) viraram pregações apologéticas. Resiliência não é ser escravo ou aceitar condições de trabalho difíceis, degradantes, humilhantes, constrangedoras ou sem condições de execução. “Se vira” não é solução. A empresa tem obrigação de oferecer as condições mínimas necessárias para que o trabalhador possa desenvolver as suas funções plenamente e com segurança; veganismo corporativo é desculpa para a empresa economizar na carne e todos os outros itens de origem animal, oferecendo uma ração de baixo teor nutritivo aos trabalhadores (quem se alimenta corretamente não precisa tomar vitaminas). Agricultura orgânica não é sustentável porque precisa de maior área, e consequentemente, maior desmatamento. Também não possibilita a produção em larga escala; fazer orações, rezar missas e fazer cultos não substitui medidas preventivas e também não elide riscos no trabalho.
Da mesma forma, ideologia de raça, gênero, LGBT+Besteiras ou coisa que o valha não substitui o respeito a pessoa humana. Injeção de ânimo para exploração dos trabalhadores funciona apenas quando acompanhada da justa recompensa. Emprenhar trabalhadores pelos ouvidos não é mais uma boa ideia. E qualquer besteira holística nesse sentido é só isso: besteira holística. Nem todo mundo é alienado ou se deixa alienar. Há aqueles que para dar um prato de comida a um miserável passa duas horas torturando o mesmo com pregações religiosas. Pior ainda, são as coações dos superiores hierárquicos ideólogos sobre os subordinados para que os mesmos adotem suas ideologias (geralmente políticas e religiosas). Com a atual polarização política, em algumas empresas, quem não reza na cartilha do chefe é carta fora do baralho. Quem é funcionário público ou trabalha em empresas públicas e não é da turma do “Lula livre” sabe do que estou falando.
Ao ver cartazes nas empresas do tipo “Nossas crenças” já fico preocupado com a qualidade da produção. Não existe crença corporativa, mas a ideologia de quem elaborou o texto. Já os valores podem ser úteis, considerando que são baseados na ética corporativa (concorrência justa, satisfação do cliente, preservação do meio ambiente, segurança, saúde e qualidade de vida dos trabalhadores, responsabilidade social, etc). Alguns confundem crenças com valores. Promover parceria entre a iniciativa privada, atividade empresarial, busca legítima de resultados econômico-financeiros, capacidade criativa e outros não são crenças, mas estratégias. Apesar do planejamento estratégico ser a principal ferramenta para segurança da organização, “Missão” e “Valores”, quando bem definidos, podem ajudar nos processos de gestão. As organizações devem promover o valor e não o preço dos seus resultados.
Quem estuda sabe, mas quem não estuda acredita no que os outros dizem. Quando as vítimas desses enganadores ideológicos começarem a pedir provas das alegações e os assediados buscarem a justiça, talvez os tais ideólogos deixem esse mau caratismo e resolvam levar pessoas e empresas à sério. Quem quer absorver apologia que procure as fontes específicas para esse tipo de conteúdo. As apologias preferidas sempre estão disponíveis em alguma fonte midiática tosca.
O combate às apologias se resolve com investimento em educação baseada no Método Científico. Não essa educação faz de conta que temos, de sistema de aprovação automática e admissão por cotas. Motivados principalmente por interesses pessoais, hoje temos todo tipo de profissional funcionando como pregadores apologéticos ideológicos. E os maiores estragos ocorrem nas mentes dos adolescentes, cujas fontes são basicamente familiares, professores e mídias. Nas organizações estão sendo impostas por meio da coação. Enquanto todos ficarem balançando as cabeças fingindo que concordam para parecerem hipócritas politicamente corretos (desculpem o pleonasmo) isso não vai acabar. Se as pessoas fossem menos hipócritas o mundo seria bem melhor. Apenas a prova da alegação deve ser levada em consideração. O resto é ideologia. Alguém precisa falar a verdade.
(*)Ninguém precisa de ideologia para viver, mas da verdade. E se seus heróis morreram todos de overdose, tome vergonha nessa cara lisa e arranje heróis decentes. Heróis de verdade, que não sejam patrocinadores de traficantes e, consequentemente, de toda essa violência que aí está (acho tão fofo quando algum maconheiro famoso finge que está preocupado com a violência). Quem protege parente bandido é bandido também. Quem elege político bandido é bandido também. Se não tem candidato decente, anule o voto por falta de candidato. Deixe quem quiser eleger o bandido de sua preferencia. E você deve dar um jeito de não cumprir determinações aprovadas por bandidos e para beneficiar bandidos. Pare de dar relevância a bandidos, maconheiros e cheiradores de cocaína. Essa inversão de valores desmoraliza o Estado e seus cidadãos. São as ideologias que fazem com que um religioso se exploda ou solte misseis na cabeça de pessoas que não rezam para o mesmo deus que ele. Religião é que nem a mãe, só a de quem professa é que é santa. Mas há também a versão que diz que religião é feito pênis: cada um tem o seu e não causa problema algum; o problema surge quando um quer enfiar o dele no outro. Quem faz tatuagens e cortes de cabelo por modismos, para ficar parecido ou imitar famosos, não tem personalidade. Hoje as pessoas não conseguem mais ser normais, equilibradas e centradas ou apenas um cidadão comum, que estuda, trabalha e contribui para o social. Mas tem que ser viciado, bandido ou fanático por alguma porcaria (pronto, falei).
Até mesmo expressões simples como “trabalhadores e trabalhadoras”, “técnicos e técnicas”, “engenheiros e engenheiras”, etc denotam analfabetismo ideológico. Isso porque tais expressões, além de constituir graves erros de português (redundância), foram criadas por força da ideologia feminista. Para esse pessoal as ideologias são mais importantes que tudo. Superam até a ciência e a gramática. Mais triste ainda é ver gestores se comunicando por meio de termos como “alunxs”, “amigues”, “todes” e outros semelhantes como se fosse algo louvável, benéfico e correto. Isso não é mais nem analfabetismo ideológico. É idiotice, mesmo.
O teor ideológico a partir do (*), foi proposital. Se você chegou até aqui é porque gostou, odiou ou racionalizou o artigo. Das três uma. A primeira proposição indica mesma ideologia apresentada no texto. A segunda proposição indica ideologia contrária ao texto. A última proposição indica racionalismo ou ceticismo. Já o abandono da leitura pode indicar forte ideologia contrária as ideias do texto, falta de tempo ou mesmo desinteresse pelo assunto. O fato é que tanto os comportamentos quanto as decisões corporativas atuais são sempre ideológicas (sociológicas, políticas, religiosas, etc). Nunca há base científica. E isso é explicável. Com apenas 5% da população brasileira alfabetizada cientificamente, temos engenheiros, médicos, advogados, juízes, cientistas (sim, cientistas) e toda gama de profissionais analfabetos científicos. Por isso fica fácil misturar 99% de ideologia com 1% de alguma verdade científica e enganar as pessoas.
Frente ao exposto, empresários e gestores devem ficar atentos a mais essa forma de assédio moral e enganação. Organizações devem basear seus planejamentos estratégicos em métodos cientificamente comprovados. E a ideologia do gestor não faz parte de nenhuma processo corporativo. Fica a dica.
Imagem de Peggy und Marco Lachmann-Anke por Pixabay.
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