Constrangimentos e humilhações nos processos seletivos de trabalhadores – Por Heitor Borba
Com medo da exposição negativa a maioria dos profissionais evita tocar nesse assunto. Afinal de contas todos dependem do emprego para sobreviver.
Os maiores constrangimentos e humilhações ocorrem principalmente nos seguintes processos seletivos:
a) Avaliação psicológica;
b) Entrevista de avaliação;
c) Avaliação médica.
Comecei a participar de processos seletivos no início da década de 80, quando o mundo não era tão politicamente idiota como é hoje. Nessa época, todo o processo se fundamentava nos conhecimentos técnicos e na experiencia profissional do candidato. Ninguém era avaliado porque sabia empilhar palitinhos ou saltitar que nem uma gazela feliz. Poucas empresas possuíam setor de recrutamento e seleção. E as que possuíam orientavam os profissionais a focar no que realmente interessava: as aptidões e as inaptidões dos candidatos para a função. Um candidato canhoto não poderia ser admitido para operar comandos precisos localizados no lado direito; um obeso não poderia trabalhar em altura ou em espaços confinados/apertados; alguém com deficiência física teria que adaptar o local de trabalho ou a prótese utilizada. Mas aí os frescos invadiram as universidades e o Congresso Nacional e começaram a estragar as coisas: recusar o canhoto é preconceito; o obeso é bullying e adaptar o local de trabalho ou a prótese é eugenia. Agora temos Mauricinhos e Patricinhas comandando a coisa. O que pode dar errado?
Calma que piora: agora também temos entrevistas admissionais não técnicas, dinâmicas de grupo e exames médicos constrangedores e humilhantes. Já escrevi sobre dinâmicas de grupo no artigo “O constrangimento das dinâmicas de grupo constrangedoras”.[1] Artigo este que tem me rendido muitos desafetos e e-mails desaforados.Tenho recebido ad hominem constantemente. Será que as universidades não conseguem produzir algo melhor? A coisa tá feia mesmo. Enquanto as escolas particulares viraram negócios, as públicas se tornaram antros de maconheiros e ideólogos políticos. Se são especialistas deveriam ao menos saber argumentar.
No entanto, isso é sinal que está atendendo aos objetivos: fazer com que os (ir)responsáveis passem vergonha para ver se aprendem. Fazer o candidato sentar no colo do colega, rolar no chão que nem cachorro adestrado e imitar animais é humilhante e constrangedor, sim.
Há também o besteirol das perguntas feitas aos candidatos nas entrevistas:[2]
“Quais são os seus pontos fracos?”
Será que eles acham mesmo que algum candidato vai ressaltar seus pontos fracos?
“Por que você está interessado em trabalhar para esta empresa?”
Pensei que fosse por causa do salário. Afinal de contas o profissional está desempregado e na pindaíba (mas agora fiquei na dúvida);
“Por que há uma lacuna na sua trajetória profissional entre (data) e (data)?”
Deixa ver se adivinho…, hummm! Por que estava desempregado?
“Como você lida com a pressão?”[3]
[início de modo irônico] Todo mundo sabe que pressão no trabalho é algo gostoso, não adoece, não causa depressão, nada. É desafio… [fim do modo irônico];
“Qual é sua música preferida?”
Vale o “Conde do Brega?”
Quer outra?
“Qual o seu site favorito?”
Pergunta feita a um ideólogo fresco da geração “Z”.[4]
Agora, pasmem:
“Se você for assediado pela sua chefe bonitona, o que você faz? (pergunta feita a um homem)
Aiiin! Num quero?
e,
Entrevistador:
“Que animal você gostaria de ser?”
Entrevistado:
“Hã? Errh!…, bem…, um…, um…, cachorro!”
(Quem tem personalidade gostaria de ser ele mesmo, não imita e nem quer ser ninguém, muito menos um animal).
Entrevistador:
“Então imite um cachorro da forma mais fiel possível…”
Idiotices como essas continuam constrangendo e humilhando profissionais candidatos a empregos, mas quase ninguém reclama. Se a situação está difícil aceitando constrangimentos e humilhações, sem aceitar fica pior ainda.
Mas calma, tem mais: os famigerados exames médicos ocupacionais humilhantes e constrangedores. Tem médico mandando o trabalhador (homem ou mulher) caminhar nu, agachar e mostrar o ânus.[5] E se for médico do sexo oposto ao do trabalhador a tortura fica ainda pior. Você aí da medicina ocupacional, como parece não ter ficado muito claro, deixa eu dizer uma coisa:
É HUMILHANTE E CONSTRANGEDOR PARA UM TRABALHADOR DE 60 ANOS DE IDADE TER QUE TIRAR A ROUPA E AINDA MEXER NISSO E NAQUILO NA FRENTE DE UMA MÉDICA PATRICINHA QUE TEM IDADE PARA SER SUA NETA.
Acho que agora ficou claro (será que eles entenderam?). Todo trabalhador tem o direito de exigir que seja examinado por médico ou uma médica, que a seu ver, seja menos constrangedor e vergonhoso para si.
O objetivo deste artigo é exatamente esse: ridicularizar os que tanto constrangem e humilham. Talvez algum dia os profissionais que fazem e as empresas que bancam essas idiotices tomem vergonha na cara e parem com esse assédio moral desumano. Pior que fazem isso de forma covarde, considerando que os trabalhadores não estão em condições igualitárias para que possam se defender. Faz tempo que não preciso mais passar por esses vexames, mas qualquer dia vou participar de um desses processos seletivos somente para inverter o jogo e ver a cara deles.
É um artigo antipático, eu sei. Mas alguém precisa falar a verdade. Se todo mundo se tornar hipócrita fingindo que concorda para não ser prejudicado no processo seletivo isso nunca vai acabar. Quanto aos que continuam nesse sistema, aconselho no mínimo a denunciar esses abusos e acionar o judiciário[2,5], considerando se tratar de práticas abusivas e desnecessárias.
Referencias:
[1] O constrangimento das dinâmicas de grupo constrangedoras
http://www.vidaruimdepobre.com/2013/05/a-tristeza-de-ser-um-pobre-em-dinamicas.html
[2] Perguntas feitas aos candidatos nas entrevistas
https://exame.abril.com.br/carreira/as-50-perguntas-mais-frequentes-em-entrevistas-de-emprego/
[3] Trabalho sob pressão
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-76572010000200005
[4] Geração “Z”
https://www.significados.com.br/geracao-z/
[5] Exames médicos humilhantes
https://www.conjur.com.br/2017-ago-10/empresa-condenada-impor-exame-toxicologico-aos-funcionarios
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Bom dia!
Nesta presente data, sábado, que estou escrevendo esse comentário estou aguardando para entregar uma documentação que a empresa me solicitou na quarta-feira para comparecer na quinta-feira às 8h da manhã. Pois bem, cheguei na quinta-feira às 7h, fiquei sentada na recepção até às 20h. Aí só às 20h que o dono da empresa apareceu e nos deu o vale transporte do dia, dizendo que tínhamos sidos “aprovados” e que comparecesse hoje, sábado de novo às 8h… E o rapaz da recepção me disse para aguardar que o dia iria ser longo… Acredito que nos vão fazer esperar de novo, alegando ser “teste”.
Obs: não sei se o dono só pode ser psicopata ou simplesmente é sadismo… Estou eu aqui aguardando.
Infelizmente, prezada, esses absurdos continuam ocorrendo. Empregadores, sejam gestores ou empresários, se aproveitam da demanda de trabalhadores disponíveis no mercado para chamar massacre, humilhação e exploração de “resiliência”.
Passei por um processo onde fui muito destratada sequer tinha enviado o currículo para vaga e me ligaram perguntando se queria participar disse que sim pois estava desempregada no momento. Na 1 etapa todos estavam sentados para fazer a prova quando cheguei havia apenas uma cadeira sem braço tive que sentar com um menino e dividir a mesa para fazermos a prova. Na segunda etapa esperamos um candidato que faltava chegar que por fim não chegou um bom tempo quando a recrutadora disse quando a recrutadora apareceu disse que precisava sair uns 20 minutos aguardamos.
Retornando fez a entrevista de grupo e depois a individual que foi de dois em dois por que não tinha tempo. Perguntou se tinha habilitação e esse não era um dos requisitos da vaga pelo menos não exporam isso no anúncio soube no local desse requisito e o segundo excel. Fui sincera e falei que habilitação não tinha e que excel era uma ferramenta que estaria focando caso recebesse essa oportunidade cursava office na época e também informei segundo ela era uma demanda que precisava para agora que eu ficaria sozinha que ia me estressar muito e que não tinha o perfil que ia guardar meu perfil para outras oportunidades sei que não, pediu desculpas pelo meu tempo e pelo dela. Como a entrevista era de dois em dois sequer olhava para mim e deu uma vaga de estágio para uma menina que ainda ia começar a cursar perguntou se estava cursando informei que concluir em agosto. Nas demais partes só falava com a outra candidata até que tentei falar algo e disse que estava liberada na saída tinha uma mulher esperando pediu que passasse por outro local passei meio atordoada dei tchau aos demais que esperavam no lado de fora ainda a entrevista dois a dois. Por fim pensei que o porteiro soubesse que já estava liberada já havia passado da portaria quando me chamou e me pediu para abrir minha bolsa não entendi abrir minha bolsa e só havia minhas coisas foi aí que então abriu o portão para que pudesse ir embora.
Fiquei extremamente chateada recebir o convite da entrevista meio que sem querer e só fui perceber depois me perguntaram se eu queria ir disse que sim. E aconteceu todas essas coisas. Em nenhum momento nenhum dos candidatos ficou sozinho e não era uma loja não entendi o porque do porteiro pedir pra abrir minha bolsa. A entrevista foi numa Distribuidora de bebidas e ficamos todos juntos ora com o recrutador ora com a recepcionista e não havia nesse local nada de produto ou coisa do tipo. Como devo proceder nesse caso? Ia entrar em contato com a empresa mas sequer tem email.
Prezada, foi constrangedor mesmo. O problema é provar as alegações. Aconselho você a consultar um advogado e vê o que pode ser feito. Boa sorte.