Lidando com opiniões e assuntos polêmicos no trabalho – Por Heitor Borba

 

 

Opiniões pessoais e assuntos polêmicos devem ser evitados no ambiente de trabalho. Mas o que fazer quando somos envolvidos?

O atual contexto político, religioso e filosófico do Brasil, sustentado pelas conquistas democráticas, dividiu o país em tribos. Cada cidadão faz parte de alguma tribo que defende uma posição seguida por algum grupo político, religioso ou filosófico. E nesse cenário não há espaço para opiniões. Basta alguém expressar sua opinião no ambiente de trabalho ou em alguma rede social que a parte contrária apedreja sem dó nem piedade o cidadão (que teve a ousadia de expressar opinião contrária a sua). Há casos de agressões, intrigas e até demissões por causa de opiniões expressadas no ambiente de trabalho ou em redes sociais. Alguns acham que o melhor mesmo é não expressar opinião alguma e cada um guardar a sua opinião para si mesmo, além de concordar cem por cento com a opinião do chefe. Mas e a liberdade de expressão? Só há liberdade de expressão se for favorável a opinião dos outros? E o respeito a minha opinião? Que espécie de democracia é essa?

Na verdade a opinião é um besteirol sem tamanho e, sempre que posso, procuro não expressar a minha e nem ouvir a dos outros.  A prova disso é simples: Opinião todo mundo tem a sua e sempre é fruto do conhecimento, experiência, inteligência, crença, paixão, visão do tema ou interesse de cada opinador. E a fundamentação? Não tem. Os opinadores sempre esperam que você acredite neles e não os conteste. Alguns estão tão acostumados a imporem as suas opiniões que ficam furiosos quando são contestados. Sou uma pessoa extremamente racional. E como ser pensante e realista vejo o mundo como ele realmente é. Minha regra é: Afirmou tem que provar. Se não provar é porque é mentira. E isso contraria conhecimentos deturpados, crenças e paixões. Por isso sou visto como chato. Também me considero um cara chato, pronto, falei.

Além do mais, não existe esse negócio de democracia e liberdade de expressão. Quer a prova? Fale mal da polícia, da empresa em que trabalha, do chefe ou de algum magistrado numa rede social e espere para ver o que acontece. Em qualquer parte do mundo quem manda é o Estado que age conforme os seus interesses. Claro, você tem o direito de acreditar em coisas como “armas não trazem segurança”, “desarmar o cidadão apto, capacitado e habilitado combate a violência”, “liberdade de expressão”, “democracia”, “votar para mudar”, “voto é um direito obrigatório”, “princípio da razoabilidade” (mesmo contrariando a CF), “assaltos se resolve com aumento do policiamento nas ruas” e outras insanidades Estatais.

Convenhamos que vir em meu Blog esculachar e tentar refutar afirmações devidamente corroboradas por artigos indexados utilizando opiniões pessoais é querer demais, né? Por que cargas d’água eu deixaria de considerar um artigo indexado para acreditar na opinião de um analfabeto científico? Claro, se não fosse muito analfabeto científico[1] não estaria pagando mico na net.

Enquanto opinião se acredita, ciência se aceita como fato e ponto final. Ninguém em são juízo pode dizer que acredita ou deixa de acreditar em ciência. Se você conhece alguém que não acredita em ciência, peça para o tal pular sem paraquedas do vigésimo andar de um prédio. Isso deve provar que a teoria da gravidade é só uma teoria.

Alguém disse: “Vamos ouvir a opinião do Dr. Fulano que é especialista no assunto”. Sendo especialista no assunto ele não vai emitir uma opinião, mas um parecer. Profissionais que pensam nunca opinam, mas apenas emitem seus pareceres técnicos sobre assuntos de sua competência.

Para um melhor entendimento, vamos ás definições:

OPINIÃO[2]

Ideia confusa acerca da realidade e que se opõe ao conhecimento verdadeiro. Assim, as análises baseadas em opiniões são bem distintas das ideias baseadas na observação metódica dos fatos.

CIÊNCIA[3]

Sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico bem como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tais pesquisas; Investigação ou estudo racional do universo, direcionados à descoberta de verdades compulsoriamente atreladas e restritas à realidade universal; Metódico compulsoriamente realizado em acordo com o método científico; processo de avaliar o conhecimento empírico; corpo organizado de conhecimentos adquiridos por tais estudos e pesquisas.

PARECER[4]

Pronunciamento por escrito de uma opinião técnica que deve ser assinado e datado, deve conter o nome e o registro do profissional, emitido por um especialista sobre determinada situação que exija conhecimentos técnicos. O parecer deve ser sustentado em bases confiáveis e escrito com o objetivo de esclarecer, interpretar e explicar certos fatos para um interlocutor que não é tão especializado quanto o parecerista, de preferência usando como referências artigos científicos comprovados ou leis que expliquem sua opinião. Difere do laudo pericial por não ser necessariamente requisitado por um juiz e por ter um modelo mais simples de regras para sua elaboração. Tende a ser mais informal para facilitar a compreensão do consultante.

 

O caso é tão grave que tem até artigo indexado[5] alertando auditores para que se abstenham de colocar suas opiniões nos relatórios:

Abstenção de opinião

O relatório do auditor conterá obrigatoriamente uma declaração de abstenção de opinião, quando ocorrer alguma das circunstâncias abaixo:

a) não for possível ao auditor obter todas aquelas evidências comprobatórias que considerar indispensáveis nas circunstâncias;

b) quando o sistema de controle interno e os procedimentos contábeis adotados forem de tal forma inadequados que não possam servir de base para um exame em suficiente profundidade, que lhe permita chegar a uma conclusão sobre a adequação dos saldos;

c) quando o auditor for impedido de executar qualquer procedimento de comprovação que ele considerar necessário nas circunstâncias, ou qualquer dos procedimentos usuais de auditoria;

d) quando as incertezas quanto à realização de saldos ou valores forem de tal natureza que não possam ser quantificadas.

Essa preocupação se deve aos danos causados nas organizações decorrentes de considerações de opiniões emitidas pelos profissionais que não pensam. Muitas decisões no trabalho são tomadas com base em opiniões pessoais. Por apresentar conclusões parciais e tendenciosas, as opiniões devem ser evitadas em qualquer planejamento organizacional. Vez por outra surgem modismos valorizando coisas como intuição humana, energias e pensamentos positivos, percepções holísticas, culto do empresário, trabalhos de descarrego, palestras mágicas e outras bobagens que servem apenas para engordar a conta bancárias dos seus promotores. Os gestores devem exigir dos seus colaboradores conclusões ou pareceres sobre determinado assunto e não opiniões.

Quando não for possível concluir, o resultado do parecer deve ser definido por meio de:

a)    Estatística;

b)    Vantagem e desvantagem;

c)    Possíveis implicações ou interferentes;

d)    Comparações ou analogias;

e)    Considerações sobre fatos observados;

f)     Outros.

Vivemos num mundo onde somos constantemente bombardeados por informações oriundas das mais diversas fontes. Tem gente que adora ser enganada. Basta um videozinho do You Tube ou uma mensagem do Facebook que alguns já ficam animadinhos com as “verdades”. O pior é que repassam as besteiras para os seus pares que repassam e repassam, numa cadeia de desinformação sem fim. Certa vez, recebi uma mensagem mostrando a foto de um garoto negro “que foi espancado”. O problema é que esse garoto vem sendo espancado desde a fundação do Facebook. Ou já morreu de tanto espancamento ou então escapou, casou e já tem netos. E para não perder a tosqueira, abaixo da mensagem havia uma enxurrada de comentário de outros acéfalos solidário ao pobre garoto. Antes de repassar besteira, pelo amor de Deus, verifique a veracidade da informação. Há alguns sites que podem ajudar nisso, como este, este, este e este.

Agora temos a Hilária, mulher do Severino Clinton, que foi amante da Monica Chupinsky, dizendo que vai liberar os arquivos secretos sobre OVNIS para ganhar eleições. O que temos lá? OVNIS (balões, emissões de lasers, experimentos aéreos, fenômenos espaciais, etc), não necessariamente discos voadores.

O fato é que as pessoas estão perdendo a capacidade de pensar. Quem estuda, sabe. Quem não estuda, acredita. Acredite numa coisa e essa coisa passará a existir (SQN). Não bastasse os analfabetos funcionais, ainda temos que aturar os analfabetos científicos.

Mas então como conviver com os analfabetos científicos, quer dizer, com os opinadores no trabalho que insistem em envolver você em assuntos polêmicos?

Simples, peça prova de todas as alegações. Afirmou tem que provar. Se não consegue provar é porque é mentira. Se não está na ciência não está no mundo. As provas devem ser provenientes de fontes confiáveis, como legislação, artigos indexados, publicações oficiais do governo, livros escritos por doutores e PhD, etc (reportagem do fantástico e conversa de jornalista não servem). Certamente será necessário também explicar o método científico para esses indivíduos.[6]

Não apresentada a prova, diga apenas que o argumento é inválido (falácia) e que você fica no aguardo das provas. Diga também que apresentada a prova você aceita como fato. Acreditar não faz existir. Em caso de tentativa de inversão do ônus da prova (muito comum em analfabetos científicos), diga que não se pode provar uma inexistência. A ausência de evidencia já é a prova da inexistência. Considerando essa falácia como válida, é possível validar qualquer absurdo, como por exemplo, a existência de Saci-Pererê.

Demonstração:

Argumentação – Saci-Pererê existe;

Contra argumentação – Não existe;

Argumentação – Prove que não existe.

Significa então que se o contra argumentador não conseguir provar que Saci-Pererê não existe é porque ele existe?

Com essa ferramenta você conseguirá pôr fim aos farsantes, conversadores, políticos, crédulos, enroladores, reboladores e intelectuais de meia tigela do seu ambiente de trabalho. Também conseguirá ter um pouco de juízo para não postar ou repassar besteiras nas redes sociais.

Por fim, segue breve discurso sobre a essência do ceticismo:

O pensamento cético se resume no meio de construir e compreender um argumento racional e — o que é especialmente importante — de reconhecer um argumento falacioso ou fraudulento. A questão não é se gostamos da conclusão que emerge de uma cadeia de raciocínio, mas se a conclusão deriva da premissa ou do ponto de partida e se essa premissa é verdadeira.[7]

P.S.: Refrescando a memória, o método científico funciona assim:

Qualquer pesquisador que se preze e preste para alguma coisa, após concluir sua pesquisa submete a mesma a banca revisora da sua universidade ou a um indexador qualquer (Scielo, Nature, Lancet, etc). O indexador por sua vez chama a revisão de pares (geralmente Doutores e Phd) formada por no mínimo três especialistas, dependendo da complexidade do trabalho, para revisarem o documento. Os revisores podem solicitar provas, corrigir, ajustar, excluir trechos ou mesmo reprovar por completo o trabalho. Detalhe é que os revisores não sabem de quem é o trabalho em revisão. Caso seja aprovado, será publicado e vira periódico científico, para ser submetido a revisões por cientistas de todo o mundo, onde o trabalho deverá ser replicado inúmeras vezes. Caso não seja refutado, permanecerá no indexador e todos os demais trabalhos contrários serão excluídos. O novo conhecimento balizará os livros didáticos e toda pesquisa na área. Portanto, se o trabalho não for publicado num indexador não possui credibilidade acadêmica e tampouco validade cientifica.

Webgrafia:

[1] Analfabetismo científico

https://heitorborbasolucoes.com.br/analfabetismo-funcional-um-problema-corporativo/

 

[2] Definição de opinião

http://dicionarioportugues.org/pt/opiniao

 

http://esquenta.com.br/opinioes-sao-opinioes

 

[3] Definição de ciência

http://dicionarioportugues.org/pt/ciencia

 

[4] Definição de parecer

http://dicionarioportugues.org/pt/parecer

 

[5] Abstenção de opiniões

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901976000100005

 

[6] Método científico

http://heitorborbainformativo.blogspot.com.br/2015/06/heitor-borba-informativo-n-82-junho-de.html

 

https://heitorborbasolucoes.com.br/indexadores-e-fontes-indexadas/

 

https://heitorborbasolucoes.com.br/indexadores-e-fontes-indexadas/

 

https://heitorborbasolucoes.com.br/aprioristica-da-seguranca-do-trabalho/

 

https://heitorborbasolucoes.com.br/falacias-da-seguranca-do-trabalho/

 

[7] Ceticismo

https://www.ufpe.br/biofisica/images/metodologia/f5.pdf

 

Artigos relacionados:

 

Idiossincrasias profissionais

 

Analfabetismo funcional: Um problema corporativo

 

Coisas Que (des)aprendi no Facebook

 

Profissionais de You Tube

  

Atributos necessários ao Gestor de Projetos

  

Habilidades necessárias ao exercício das funções gerenciais

 

 Prova e evidencia

  

Profissionais da geração “Y” são YRRITANTES segundo empresários e gestores

 

Gestão da Emoção

 

Empresas estão cada vez mais preocupadas com a falta de profissionais que pensam.

 

Artigo “Eficiência e eficácia”

 

Interpretação dos textos legais

 

Ad verecundiams profissionais

 

“Eisegese” na Segurança do Trabalho