Locais fechados, pouco ventilados ou sem ventilação para fins de operação de empilhadeiras a combustão – Por Heitor Borba

 

Empilhadeiras são utilizadas na mobilização de cargas em pátios e galpões, mas há restrições.

Empilhadeiras podem ser movidas a motores de combustão interna (GLP ou óleo diesel) ou elétricos. A NR-11 – TRANSPORTE, MOVIMENTAÇÃO, ARMAZENAGEM E MANUSEIO DE MATERIAIS traz nos itens 11.1.9 e 11.1.10 exigências para operação de máquinas transportadoras, movidas a motores de combustão interna, aqui aplicadas a empilhadeiras a combustão:

11.1.9 Nos locais fechados ou pouco ventilados, a emissão de gases tóxicos, por máquinas

transportadoras, deverá ser controlada para evitar concentrações, no ambiente de trabalho, acima dos limites permissíveis.

Aplicado a empilhadeira, podemos pensar nos controles:

a) Ventilação geral diluidora;

b) Ventilação geral exaustora;

c) Rodízio de operadores com redução do número de máquinas no local.

Locais fechados ou pouco ventilados. Não há uma norma ou lei que defina ou estabeleça critérios para determinação do que seja “locais fechados ou pouco ventilados”.

A NR-33 – SEGURANÇA E SAÚDE NOS TRABALHOS EM ESPAÇOS CONFINADOS não pode ser aplicada nesse caso porque define Espaço Confinado (que possui situação bem mais complexa que um galpão) como sendo qualquer área ou ambiente não projetado para ocupação humana  contínua, que possua meios limitados de entrada e saída, cuja ventilação existente é  insuficiente para remover contaminantes ou onde possa existir a deficiência ou enriquecimento de oxigênio. Em nosso caso, o controle ocorre para que os contaminantes não ultrapassem os Limites de Tolerância.

Vamos então para a NR-17-ERGONOMIA. A NR-17 considera “velocidade do ar não superior a 0,75 m/s” como baixa para fins de exposição de trabalhadores nas saídas dos aparelhos de ventilação e ar condicionado:

17.5.2 Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros, são recomendadas as seguintes condições de conforto:

a) …………….;

b) ……………;

c) velocidade do ar não superior a 0,75 m/s;

 O Manual de Aplicação da NR-17 diz:

Velocidade do ar superior ao preconizado pode evidenciar a existência de postos em que as saídas de ar situam-se sobre a cabeça e tronco dos funcionários. Nessas saídas, não raro pode ser observado acúmulo de poeira.”. Percebemos que o objetivo é evitar que o trabalhador fique posicionado próximo as saídas de ar dos aparelhos de ventilação e refrigeração. As poeiras emitidas podem desencadear alergias, com rinites e amigdalites. Limitando a velocidade do ar a no máximo 0,75 m/s é reduzido o risco de projeção de poeiras sobre o trabalhador, quando exposto diretamente ao fluxo de ar.

Sei que não é uma analogia muito boa, mas não temos outro parâmetro (caso alguém saiba mais a respeito, favor informar). Seguindo essa luz, vamos considerar locais pouco ventilados a velocidade do ar baixa (Vb):

0,1 m/s < Vb < 0,75 m/s

Com um anemômetro devidamente calibrado podemos medir a velocidade do ar no interior do galpão. Vamos considerar velocidade do ar interno com os valores compreendidos entre 0,1 m/s e 0,75 m/s como baixo ou de pouca ventilação, sem energia para carregar partículas poluentes. Claro que a avaliação ambiental das concentrações dos agentes contaminantes é parâmetro fundamental para se estimar se as concentrações ultrapassaram os Limites de Tolerância ou não. Desta forma comprovar ou não a eficácia da ventilação local, e consequentemente, da velocidade do ar interno e seu potencial de tiragem dos contaminantes, seja a ventilação natural ou artificial. Também pode ser que a concentração realmente seja baixa, mesmo sem ventilação.

No item 11.1.10 da mesma NR-11 temos:

11.1.10 Em locais fechados e sem ventilação, é proibida a utilização de máquinas transportadoras, movidas a motores de combustão interna, salvo se providas de dispositivos neutralizadores adequados.

Ou seja, locais sem ventilação a velocidade do ar (V) igual a:

V = 0,0 m/s

Esse item é bem mais fácil de compreender. Local sem ventilação é aquele em que o anemômetro marca zero, não gira a ventoinha. Colocando o anemômetro no centro do galpão, caso o mesmo marque zero durante todo o tempo, significa que o local é sem ventilação e não pode fazer uso de empilhadeiras a combustão. Nas saídas dos galpões geralmente há registro de correntes de ar naturais pelo anemômetro. No entanto, não significa muita coisa se nas partes centrais ou cômodos não houver ventilação. De qualquer forma, vamos considerar locais com velocidade do ar inferior a 0,75 m/s como sendo de baixa ou pouca ventilação; locais com velocidade do ar igual a 0,0 m/s como sendo locais sem ventilação.

Ante ao exposto e considerando a velocidade do ar (V) no local como parâmetro de ventilação, temos:

Locais ventilados ou com boa ventilação: V > 0,75 m/s;

Locais pouco ventilados:  0,1 m/s < V < 0,75 m/s;

Locais sem ventilação: V = 0,0 m/s

 

Empilhadeiras a combustão devem ser utilizadas apenas em pátios, exceto, se houver um bom projeto de ventilação artificial implementado no local ou comprovação e monitoramento de que as concentrações dos contaminantes se encontram abaixo do Nível de Ação da NR-09.

Nesse contexto, a emissão de gases tóxicos de que fala a NR se refere ao monóxido de carbono emitido pelo escapamento da empilhadeira a combustão (geralmente GLP), cujo Limite de Tolerância é de 39 ppm. Comprovada, o grau de insalubridade é o máximo (40%). Significa dizer que não pode haver concentração desse contaminante superior a esse valor no ambiente de trabalho. A ventilação natural ou artificial e outras medidas de controle devem ser suficientes para manter o ambiente com concentrações abaixo de 19,5 ppm (Nível de Ação da NR-09).

Nas empilhadeiras a óleo diesel, não é recomendado seu uso para áreas internas porque além do monóxido de carbono, outros gases tóxicos também são emitidos. Os gases provenientes da exaustão de motores a diesel são constituídos por uma mistura de compostos gasosos (tais como monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio) e material particulado (carbono, enxofre, nitrogênio, entre outros) que, ao serem inalados, podem provocar o desenvolvimento de doenças (inclusive, câncer).

Mas porque o monóxido de carbono é tão temido?

Porque é um asfixiante químico que asfixia por concorrer com a hemoglobina. Presente nos pulmões, misturado com oxigênio (O2), o monóxido de carbono (CO) se combina com a hemoglobina, formando a carboxiemoglobina, altamente tóxica para o organismo humano. Isso porque a hemoglobina possui mais afinidade com o CO do que com o O2, ou seja, prefere se combinar com o CO.

Os principais sintomas de exposição agudas ao monóxido de carbono (CO) são:

a) Irritação, ardor e secura nos olhos e garganta;

b) Torpor, fadiga e sensação de fraqueza;

c) Desmaio e morte.

Há também estudos que comprovam relação entre perdas auditivas e exposição ao monóxido de carbono (efeito ototóxico).

Lembrando que não há filtros eficazes para essas exposições ao monóxido de carbono. Os filtros existentes devem ser utilizados uma única vez por um período máximo de 20 minutos. E seguem rigorosas recomendações, além de haver muitas restrições para uso (como o percentual de oxigênio no local). Portanto, apenas respiradores de pressão positiva (de adução de ar ou autônomos) devem ser utilizados para proteção contra exposições ao monóxido de carbono.

Sobre os procedimentos para medições da velocidade do ar por meio de anemômetros:

a) Estude o Manual do Aparelho e programe o aparelho na função anemômetro (se tiver outras) e escala m/s (metro por segundo);

b) Aponte a ventoinha do aparelho na direção das aberturas do local (prismas de ventilação) e na posição de leitura;

c) Anote as velocidades constatadas no visor do aparelho no momento da leitura, de 20 em 20 segundos. Pegue umas 20 leituras e calcule  a média aritmética;

d) Meça a 3 m das entradas do galpão, no centro e cômodos mais confinados;

e) Faça um mapa de ventilação do local com base nos dados;

f) Não registre ventos intrusos, ou movimentação do ar ocasionada por pessoas ou máquinas que passam próximas, mas considere a ventilação gerada por ventiladores e outros dispositivos instalados no local.

Aqui considerada a ventilação do ambiente, seja natural (passiva) ou artificial/mecanizada (ativa). A ventilação passiva ou natural é a mais complexa em relação ao estabelecimento dos parâmetros definidores de “local sem ventilação”, “local pouco ventilado/com baixa ventilação” e “local ventilado/com boa ventilação”.  Isso porque a ventilação natural sofre influencia de diversas variantes, com umidade e temperatura do ar, estações do ano, pressão atmosférica, etc

A ventilação pode exercer três diferentes funções em relação ao ambiente construído:

a) Renovação do ar (neste contexto é a que interessa);

b) Resfriamento psicofisiológico;

c) Resfriamento convectivo.

Os sistemas passivos de ventilação são baseados em diferenças de pressão, que movem o ar fresco através da edificação. As diferenças de pressão podem ser causadas pelo vento ou por diferenças de temperatura, o que configura dois tipos principais de ventilação passiva: a ventilação cruzada e a ventilação por efeito chaminé. No efeito chaminé o ar mais frio (mais denso) exerce pressão positiva, enquanto o ar mais quente (menos denso) exerce baixa pressão e tende a subir criando correntes de convecção. Já a ventilação cruzada tem a ver com os efeitos de pressão negativa e positiva que o vento exerce sobre a edificação ou qualquer outro anteparo. E para que seja possível uma boa ventilação natural é preciso posicionar as aberturas da edificação em zonas de pressão oposta. A taxa de ventilação é função da área de entrada e saída de ar, da velocidade do vento e da direção do vento em relação às aberturas. A elaboração de Projeto de Sistemas Passivos de Ventilação devem considerar o objetivo da ventilação, o clima local, a umidade relativa do ar, as variações das condições do vento (direção, intensidade, velocidade, etc) e possíveis obstruções ocasionadas por construções vizinhas.

Para projetos de ventilação industrial (artificial), o profissional habilitado deverá considerar os objetivos do projeto, as características da edificação, as áreas a serem ventiladas, a taxa de renovação do ar necessárias, as dimensões da área a ser ventilada, etc

Seja natural ou artificial, para uso de empilhadeiras a combustão em locais internos, a ventilação deverá ser do tipo geral diluidora, considerando a ineficácia e inviabilidade econômica da ventilação exaustora. 

Para auxilio nos projetos, podem ser utilizadas as Normas:

NBR 15.220 – Desempenho térmico de edificações: exige o mínimo de área de abertura e menciona ventilação cruzada para ambientes de permanência prolongada;

NBR 15.575 – Edificações habitacionais – Desempenho: apresenta indicações de dimensões de janela adequada para a ventilação dos ambientes.

Aqui temos um modelo de cálculo de ventilação natural para fins de conforto térmico, mas não estabelece parâmetros definidores do que seja “local pouco ventilado”, “local sem ventilação” ou “local ventilado”.  De qualquer forma, se atender a essas especificações já podemos considerar “local ventilado”, mas que deve ser comprovado por meio de medições de monóxido de carbono (que deve possuir valor abaixo do Nível de Ação), para que possa valer para a NR-11 em análise.  

 

Finalizando, empilhadeiras a combustão podem ser operadas somente em locais abertos, como pátios. Para utilização de empilhadeiras a combustão (GLP) em locais fechados, como galpões, deve haver controle de ventilação, medições ambientais e monitoramento a fim de garantir a manutenção das concentrações do monóxido de carbono dentro de patamares seguros.

Fonte da imagem: Heitor Borba

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