ABNT lança guia para fabricação e uso de máscaras artesanais – Por Heitor Borba
A ABNT lançou o Guia de Requisitos Básicos para métodos de ensaio, fabricação e uso de máscaras de proteção respiratória de uso não profissional.
Trata-se da ABNT PR 1002 – PRÁTICA RECOMENDADA – Máscaras de proteção respiratória de uso não profissional – Guia de requisitos básicos para métodos de ensaio, fabricação e uso. São recomendações para fabricação em série e fabricação artesanal de máscaras de proteção respiratória de uso não profissional. Esse Guia de Requisitos Básicos visa reduzir a bagunça e a enganação das máscaras caseiras/artesanais. Digo reduzir porque ainda não é um Equipamento de Proteção Individual – EPI. Como não é um EPI, não garante nada. E o melhor a fazer ainda é evitar as exposições por meio do isolamento e do distanciamento social. As máscaras, se fabricadas conforme o Guia, bem como, observadas as demais recomendações, conseguem reduzir em até 70% das exposições (diz o Guia). Eu digo que em função do tecido utilizado, das condições de fabricação e uso em campo, essa eficiência não chega a 30%. Sendo a capacidade de filtragem para partículas sólidas ou para partículas líquidas até um limite de 3 µm (micrometros), temos que:
Capacidade máxima de filtragem da máscara por tamanho das partículas: 3 µm = 0,003 mm (3×10-3);
Tamanho dos sprays da tosse: 0,1 µm = 0,0001 mm (1×10-4);
3×10-3 / 1×10-4 = 3×101 = 30 vezes maior que os sprays.
E sem tratamento eletrostático é que não funciona mesmo. Conclusão: Não use máscaras, use EPI.
Somente o buraco feito pela agulha de costura comum e pelo esgarçamento do tecido causado pelo repuxo da linha no processo de confecção é enorme em relação ao coronavírus. E é justamente nesses pontos onde há ocorrência de maior gradiente de pressão e, consequentemente, maior fluxo de ar. No entanto, já é alguma coisa em relação as máscaras caseiras atuais, cuja eficiência beira os 0%, quando nas condições de uso em campo (coisa que só sabe quem é da área). Lembrando que a observância das normas de uso é tão importante quanto a observância das normas de fabricação. Embora não sejam tecidos adequados para Peças Faciais Filtrantes – PFF, os tecidos eleitos foram os que possuem algodão em sua composição. Além de preço e demanda, o critério para escolha do tecido foi também decorrente do fato de que os fios de algodão são felpudos (não lisos) e com baixa densidade (fibras formadoras do fio em forma de tela), melhorando o fechamento dos espaços deixados pela trama.
A composição dos tecidos de algodão deve ser:
a. 100 % algodão – características finais quanto à gramatura:
— 90 a 110 (por exemplo, usado comumente para a fabricação de lençóis de meia malha 100 % algodão);
— 120 a 130 (por exemplo, usado comumente para a fabricação de forros para lingerie); e
— 160 a 210 (por exemplo, usado para a fabricação de camisetas).
b. Misturas – composição:
— 90 % algodão com 10 % elastano;
— 92 % algodão com 8 % elastano;
— 96% algodão com 4 % elastano.
Mas pode ser utilizado também Tecido Não Tecido (TNT) sintético, desde que o fabricante garanta que o tecido não causa alergia e desde que ele seja adequado para o uso humano. Quanto à gramatura desse tecido, recomenda-se que seja de 20 g/m2 a 40 g/m2.
Há recomendação também para que o produto manufaturado tenha três camadas:
01 (uma) camada de tecido não impermeável na parte frontal;
01 (uma) camada de tecido respirável no meio, e;
01 (uma) camada de tecido de algodão na parte em contato com a superfície do rosto.
Dentre outras recomendações.
O problema é quem vai fiscalizar os processos de fabricação dessas máscaras nos fundos dos quintais da vida. Afinal, é apenas uma recomendação, as máscaras não são EPI e não protegem ninguém. E a ABNT, um órgão tão acreditado, não deveria pagar esse mico.
A ABNT também liberou 32 Normas gratuitamente para contribuir no combate ao COVID-19.
Você pode baixar o guia da ABNT diretamente no site ou aqui:
P.S.: Embora a ABNT e a TARJET travem de todas as formas o acesso da população às Normas, desde 25 de novembro de 2017 que foi confirmado judicialmente o livre acesso das Normas ao público. Independente dos preços das Normas serem justos ou não, não concordo em abrir de vez o acervo da ABNT para o público, considerando ser essa a única fonte de renda dessa tão importante instituição. Mas considerando que essa Norma já foi disponibilizada pela própria ABNT e é de interesse público, resolvi disponibilizar também aqui para facilitar o acesso da população.
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