Eficácia dos protetores faciais no combate ao coronavírus – Por Heitor Borba

 

Após análise da “Eficácia das máscaras caseiras” passamos a análise da utilização dos protetores faciais no combate a COVID-19.

Durante o processo da fala, por ocasião do espirro ou da tosse, gotículas são expelidas pela boca e nariz. As gotículas maiores e mais pesadas caem próximo ao emissor. As menores em forma de aerossóis em sprays, portanto mais leves, se espalham por todo o ambiente. Se o ambiente for fechado e sem correntes de ar, as gotículas permanecem no ambiente por muito tempo. Neste estudo científico (indexado e com revisão de pares), foi feito um experimento sobre emissão de partículas durante o espirro. As partículas jogadas no ar após um espirro podem viajar por um espaço de até 8 metros. Considerando as dimensões das partículas, a alta taxa de reprodução do coronavírus e demais estudos sobre o tema, aplicar medidas preventivas não é algo tão simples. O estudo também concluiu que colocar o braço na hora de espirrar não resolve o problema. Também há um filme produzido por japoneses que roda nas redes sociais sobre a dispersão de partículas durante o processo da fala, espirro e tosse. Nesse contexto, as medidas preventivas mínimas necessárias consistem mesmo na utilização e óculos vedados e respiradores PFF2 sem válvula de aeração. Claro que seguidos de todo processo de colocação, retirada, utilização, higienização, substituição e higienização pessoal.

Percebemos que a prescrição de barreiras como EPC (como os anteparos em acrílico colocados nos caixas de supermercados), a utilização de protetores respiratórios sem óculos vedados e a utilização de protetores faciais não são medidas preventivas eficientes e muito menos eficazes. Isso porque as gotículas envolvem todo o corpo das pessoas inseridas em um ambiente. As partículas líquidas dispersas no ar são multidirecionais e assumem movimentos caóticos, não são projetadas linearmente sobre o visor do protetor facial. O que ocorre é que algumas batem no visor do protetor facial e ficam grudadas (em função da alta viscosidade) e outras contornam o visor e entram em contato com os olhos, boca e nariz do usuário. A movimentação aleatória das gotículas suspensas ocorre em função dos choques entre as partículas líquidas e as moléculas do ar. O estudo do movimento browniano explica esses movimentos aleatórios. Ao movimentar a cabeça com uso do protetor facial, pode ocorrer uma zona de baixa pressão entre a face do usuário e o visor do protetor. Isso agrava a exposição porque a baixa pressão suga as partículas próxima para o lado interno do visor devido a um gradiente de pressão.

O problema é a nuvem de aerossol que se forma e se propaga no ambiente, envolvendo as pessoas. A prescrição para colocação do braço na hora do espirro também não funciona. Esse procedimento retém apenas as partículas maiores e menos perigosas. Mesmo com a colocação do braço, os perigosos aerossóis também são expelidos para o ambiente.

Isto posto, podemos concluir que a utilização de barreiras físicas tipo anteparos (EPC) ou protetores faciais (EPI) para prevenção contra o coronavírus é totalmente ineficiente e não deve ser utilizada.

A proteção minimamente eficaz consiste na utilização de óculos vedados para produtos químicos e respiradores N95/PFF2 (sem válvula de aeração), juntamente com os protocolos para colocação, retirada, utilização, higienização, substituição e higienização pessoal (antes, durante e após a exposição). Os protetores faciais devem ser utilizados pelo pessoal da saúde sobre o respirador e óculos vedados apenas para proteção contra projeção direta de respingos na face. Lembrando que protetores faciais contra respingos são aqueles em acrílico transparente flexível. Os de acrílico rígido são para proteção contra projeção de partículas de alta energia, como centelhas e partículas sólidas. Medidas de ordem administrativa ou de organização do tipo “isolamento social”, devem ser prescritas apenas para infectados e pessoas de grupos de risco. Medidas administrativas ou de organização do tipo “distanciamento social”, devem ser prescritas para os demais. A hierarquia das medidas preventivas deve ser observada durante a implantação: 1-Medidas de ordem coletiva (túnel de higienização, aspiração e filtração do ar, higienização de superfícies, etc); 2-Medidas de ordem administrativa ou de organização (segregação, isolamento e distanciamento social); 3-Medidas de ordem individual (uso de EPI).

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