Mais três meses de quarentena? – Por Heitor Borba

 

Pelo visto a quarentena ainda vai longe e seus efeitos parecem mais danosos que os do vírus

Eu sou um privilegiado por poder trabalhar mais em casa do que na rua ou mesmo por estar trabalhando. Encerrados em casa, muitos já sentem os efeitos danosos do isolamento social imposto. Casamentos que nunca foram muito harmônicos ou mesmo decentes estão se desfazendo. Filhos que nunca foram primores de obediência estão se rebelando. Pessoas que viviam mais a vida dos outros do que a delas mesmas estão desesperadas. A crise financeira bate à porta. E quando a necessidade entra pela porta o amor sai pela janela. E a meu ver essa é a parte mais ruim desse processo. Claro que minha renda também caiu muito e estou fazendo malabarismos para pagar as contas. Mas ficar em casa com a boca aberta, escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar, não é uma boa ideia. E nem sempre quando tudo está perdido existe uma saída. A chance para conseguir sair do problema aumenta pela ação ou omissão das pessoas envolvidas. Mas tudo tem jeito. Até para a morte as vezes ainda tem jeito (eu tive). Durante a minha vida sempre estive em situações difíceis. Algumas vezes ainda mais difícil do que essa que estamos vivenciando agora. Quem acompanha meus artigos desde o começo sabe do que estou falando. E todas as vezes que estive cercado e sem saída, surgiram frestas no cerco para que eu pudesse escapar. E por que isso ocorre? Ocorre porque essa é a natureza das coisas: o que está organizado tende a se desorganizar e o que está desorganizado tende a se organizar. As coisas funcionam conforme a sua natureza, sem a necessidade de forças sobrenaturais intervindo.

Em termodinâmica, entropia é a medida de desordem das partículas em um sistema físico. Diz que tudo que está organizado tende a se desorganizar. Mas como o povo brasileiro só gosta de ciência quando está no hospital usufruindo dos seus benefícios (inclusive dos repugnantes produtos químicos e da detestável radiação ionizante), já tratou de falar mal da entropia nas redes sociais. A alegação é de que o universo é perfeito e os corpos celestes giram impecavelmente sem adiantamentos ou atrasos em suas órbitas. Fingir que o universo não está se expandindo em função do big bang e que os corpos celestes não estão se afastando uns dos outros não é muito honesto. Também não há honestidade intelectual em fingir que o sol não está sofrendo alterações e esfriando, não há ameaças de meteoritos e nem supernovas explodindo e engolindo sistemas solares inteiros. Não pode existir mecanismo 100% eficiente porque a entropia não deixa. Por isso as coisas se desorganizam de uma forma ou de outra. E a ferramenta que contorna a entropia nas organizações e nas residenciais já foi inventada. Se chama “Gestão de Crise” e “Planejamento Estratégico”. Funciona? Sim, funciona. Se não resolver, mitiga. Por fazer parte da natureza, a entropia é invencível, mas pode ser contornada. E para isso precisamos de lideranças nos níveis federais, estaduais, municipais, corporativos e nos lares. É hora de somar e não de dividir. Não há vencedores na divisão e na guerra.

A ociosidade causa a enfadonha monotonia e as más notícias aumentam as tensões. Daí as constantes discórdias nos lares. No cerco e no aperto que os fracos são denunciados, mas também surgem as grandes ideias e os líderes. Para quem estar em casa com a geladeira cheia esperando a onda passar, não tem do que reclamar. Mas como mente vazia é oficina de satanás, precisam buscar algo útil para ocupar suas mentes, como fazer cursos EAD, ler livros, atualizar os arquivos do computador, baixar músicas, assistir filmes, realizar atividades domésticas (não cai a mão), construir um site, elaborar projetos com ideias para a empresa em que trabalha, fazer exercícios físicos, serviços voluntários, melhorar o português (sim, muitos profissionais estão precisando, inclusive eu). Portanto, não há desculpa de que não tem o que fazer.

E para os que estão na pindaíba?

Muitos estão em casa com suas geladeiras vazias. Para esses a coisa é mais complicada e a prioridade zero é fazer dinheiro. Como? Bom, cada um se vira da sua maneira, conforme suas habilidades e experiências de vida e profissional. Vou citar alguns exemplos de pessoas que conheço que estão se virando com produtos e serviços:

-Salada de pote e sanduíche natural;

-Loja virtual (escolha o ramo);

-Laja jato/Drywash a domicilio;

-Serviço de compras e entregas de qualquer coisa;

-Consertos e limpeza de equipamentos, principalmente ventiladores e aparelhos de ar condicionado;

-Água mineral;

-Higienização de tapetes;

-Higienização de EPI;

-Serviços virtuais, como elaboração de sites, aulas diversas e atividades lúdicas para crianças;

-Demais serviços com atendimentos no domicílio do cliente, como corte cabelo, fisioterapia, acuidade visual/ótica, limpeza pele, etc

Também pode ser criada uma nova necessidade a partir da crise. Como saber disso? Qual é a sua maior necessidade nesse momento? (fazer dinheiro não vale agora). É assim que surgem as grandes ideias.

Constatamos alguma eficiência nas medidas preventivas implantadas contra a pandemia e a crise, mas certamente não serão eficazes. Há necessidade de também fazermos nossa parte. Estamos Em tempos de crise, precisamos esquecer os inúmeros vieses ideológicos já inventados e trocar ideias reais e objetivas. Esquecer os ideólogos e colocar os pés no chão, analisar a realidade e buscar soluções possíveis e executáveis. Nada cai do céu e não existe almoço grátis. Somente pela ação ou omissão podemos mudar alguma coisa. Desde que tomemos a decisão correta, muitas vezes apenas a omissão já resolve alguma coisa.

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