A abordagem técnica e científica para realização de levantamento ambiental – Por Heitor Borba

 

A preocupação dos profissionais da área de segurança e saúde ocupacional em relação ao conhecimento técnico a respeito da aparelhagem utilizada nas medições ambientais é legítima. O problema é que nunca vi um profissional preocupado com os conhecimentos necessários à abordagem ambiental correta.

A ausência de preocupação a respeito do conhecimento necessário sobre a abordagem ambiental para realização das medições denota que o profissional:

a)    Possui os conhecimentos necessários sobre o assunto e não precisa saber mais nada;

b)    Acha que já sabe tudo;

c)    Desconhece a necessidade de conhecimento prévio sobre a correta abordagem técnica e científica;

d)    É analfabeto funcional ou científico.

Pelos levantamentos ambientais que já analisei posso afirmar com certeza que a maioria dos profissionais desconhece a abordagem técnica e científica que são essenciais a realização das medições ambientais (não me façam publicar esses absurdos novamente).[1]

A abordagem técnica e científica depende:

a)    Das características física, química ou biológica do agente nocivo;

b)    Da identificação do princípio ativo físico, químico ou biológico do agente nocivo;

c)    Da identificação do Grupo Homogêneo de Exposição – GHE;

d)    Da identificação dos ciclos de exposição representativo da jornada de trabalho;

e)    Da definição do período de medição durante a jornada de trabalho;

f)     Da escolha da aparelhagem;

g)    Dos procedimentos para manuseio dos aparelhos e realização das medições;

h)    Do conhecimento do avaliador sobre a legislação e procedimentos técnicos e científicos aplicáveis.

CARACTERÍSTICAS FÍSICA, QUÍMICA OU BIOLÓGICA DO AGENTE NOCIVO

Estado físico, via de penetração, meio de propagação, forma de contato, sintomatologia, patogênese, etc

IDENTIFICAÇÃO DO PRINCÍPIO ATIVO FÍSICO, QUÍMICO OU BIOLÓGICO DO AGENTE NOCIVO

O princípio ativo é vetor presente na energia, substância ou agente biológico causador de nocividade ao trabalhador. Por exemplo, o princípio ativo da tinta a óleo não é o pigmento mineral, mas o solvente da mesa, que é composto por hidrocarbonetos aromáticos; o principio ativo de uma cultura de bactérias nocivas ao organismo humano não é o meio (gel), mas as bactérias que vivem nesse meio, e assim por diante.

IDENTIFICAÇÃO DO GRUPO HOMOGÊNEO DE EXPOSIÇÃO – GHE

Grupos Homogêneos de Exposição são grupos de trabalhadores que se expõem ao mesmo agente nocivo e da mesma forma. Ou seja, são os trabalhadores que possuem iguais características de exposição.

IDENTIFICAÇÃO DOS CICLOS DE EXPOSIÇÃO REPRESENTATIVO DA JORNADA DE TRABALHO

A identificação dos ciclos de exposição utilizados para as medições ambientais é fundamental para a confiabilidade dos registros. Numa das medições analisadas, o avaliador não registrou todas as tarefa desempenhadas pelo trabalhador (Operador de Máquinas), finalizando as medições antes da atividade de corte de chapas metálicas (tarefa de maior exposição ao ruído). Depois reclamam quando têm seus laudos anulados.[2]

DEFINIÇÃO DO PERÍODO DE MEDIÇÃO DURANTE A JORNADA DE TRABALHO

Outro fator importante é a escolha do período de medição. Medições de calor, por exemplo, devem ser realizadas no ciclo de exposição mais desfavorável e considerando as etapas de trabalho de uma cozinha: Panelões, fornos e chapeira. Essas etapas não entram em ação simultaneamente, mas em horários diferentes da jornada de trabalho. Noutro mau exemplo, o avaliador mediu o ruído de um betoneiro em serviços de conserto de ruas com um caminhão de lixo moendo ao lado. Situação eventualíssima.

ESCOLHA DA APARELHAGEM

A aparelhagem deve ser escolhida de acordo com os critérios técnicos e legais aplicáveis e do objetivo da medição (PPRA, LTCAT, Laudos de Insalubridade, monitoramento, etc). Os diferentes critérios entre a NR-15[3] e as NHO da FUNDACENTRO[4] são exemplos disso.

PROCEDIMENTOS PARA MANUSEIO DOS APARELHOS E REALIZAÇÃO DAS MEDIÇÕES

Medições realizadas com manuseio incorreto dos aparelhos também são causas de erros graves nas medições. Treinamentos e leitura dos manuais são essenciais para o avaliador ambiental. A programação do aparelho deve estar em harmonia com a legislação aplicável de acordo com os objetivos da medição. O avaliador deve atentar para possíveis interferentes, como umidade, emissões eletromagnéticas, poluentes e outros nas proximidades, capazes de ocasionar erros de medições.

CONHECIMENTO DO AVALIADOR SOBRE A LEGISLAÇÃO E PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E CIENTÍFICOS APLICÁVEIS

Novamente a leitura é essencial ao profissional. E não pense que um curso de algumas horas pode capacitar um profissional em higiene ocupacional. O curso apenas apresenta o caminho. Aprender mesmo é através de inúmeras horas de estudo.

Aplicando corretamente a abordagem técnica e científica, a representatividade das medições depende:

a)    Do registro e tratamento dos dados;

b)    Do dimensionamento das exposições;

c)    Da conclusão técnica, científica e legal.

Esses aí eu não vou explicar. Leia meus artigos se precisar saber sobre isso.[5]

Ainda não consegui entender como um profissional, seja lá de que área for, tem coragem de alegar que não gosta de ler. Para esses, tenho um recado: Profissional que não gosta de ler está fadado ao insucesso e a passar vergonha. Não é à toa a existência de elevado índice de profissionais acometidos por analfabetismo funcional e científico.[6]

Todo profissional tem obrigação de ter a sua biblioteca específica, nem que seja dentro de uma caixa de papelão (tive uma assim por muitos anos). Pode ser em meio magnético, desde que não sejam vídeos do you tube, reportagens ou postagens do facebook.[7] Tem que ser fontes oficiais ou indexadas e com revisão de pares[8] (ninguém aprende e nem refuta nada com essas baboseiras). Costumo dizer que um profissional competente é conhecido pela sua biblioteca específica. Quanto mais livros um profissional lê mais capacitado ele fica. Só se aprende estudando. Estudar, estudar e estudar em fontes confiáveis é a única forma de saber. Não há fórmulas mágicas. Quem estuda sabe, quem não estuda acredita no que os outros dizem.

Webgrafia:

[1] Levantamento ambiental incorreto

https://heitorborbasolucoes.com.br/citacoes-de-ruido-fora-de-norma-podem-comprometer-as-empresas/

https://heitorborbasolucoes.com.br/cumulos-da-seguranca-do-trabalho/

[2] Laudo pericial anulado pelo juiz com base em Parecer Técnico

https://heitorborbasolucoes.com.br/parecer-tecnico-de-contestacao-de-um-laudo-pericial-sobre-insalubridade-por-frio/

https://heitorborbasolucoes.com.br/mais-uma-causa-ganha-contestacao-sobre-o-prazo-de-troca-dos-protetores-auditivos/

[3] NR-15

http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras/norma-regulamentadora-n-15-atividades-e-operacoes-insalubres

[4] NHO da FUNDACENTRO

http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/normas-de-higiene-ocupacional

[5] Sites com artigos sobre levantamento ambiental

http://heitorborbainformativo.blogspot.com.br/

https://heitorborbasolucoes.com.br/categorias/materiais-para-baixar/

[6] Analfabetismo funcional

https://heitorborbasolucoes.com.br/analfabetismo-funcional-um-problema-corporativo/

[7] Informações de vídeos do you tube, reportagens ou postagens do facebook

https://heitorborbasolucoes.com.br/coisas-que-desaprendi-no-facebook/

https://heitorborbasolucoes.com.br/profissionais-de-you-tube/

[8] Fontes oficiais ou indexadas e com revisão de pares

https://heitorborbasolucoes.com.br/indexadores-e-fontes-indexadas/

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