No artigo “A evolução da CIPA” eu disse que a CIPA atual é ideológica e que a decisão de incluir assédio na mesma era também uma decisão ideológica.

Após receber alguns e-mails e WhatsApps criticando o artigo resolvi esclarecer os fatos: a base científica do problema.

Realizei experimentos em algumas organizações. Claro que o universo pesquisado não considerou regionalidade, abrangência, ramos de atividade e tipos de efetivo. Trata-se, portanto, apenas de uma amostra que carece de estudos mais aprofundados e criteriosos. Mas serve como termômetro e direcionamento para a questão do assédio. Não fui autorizado a identificar as organizações onde esse estudo foi realizado, mas não seja por isso: faça você mesmo esse estudo na sua organização, com experimentos e réplica e tire suas próprias conclusões. Convenhamos: limitar ou convergir perguntas de um questionário para forçar apenas as respostas que interessam ideologicamente (e não a verdade) de modo a obter os resultados esperados não é algo muito científico. E é o que está acontecendo com a identificação dos Riscos Psicossociais, em especial, o assédio.

O experimento foi composto por palestras explicativas sobre o objetivo, importância, utilização (por parte dos participantes e dos analisadores) e entrega do questionário sobre o Risco Psicossocial assédio. O questionário limitou-se apenas aos assédios sofridos pelos trabalhadores, abrangendo todos os casos possíveis e imagináveis, com oportunidade para outros relatos não previstos. Foi explicado que deveria ser considerado assédio o fato de se sentir constrangido por palavras, atos, gestos, cobranças ou comportamentos dirigidos por outra pessoa. 

O questionário:

“X” SEGUNDA A SUA PERCEPÇÃO, QUAL É O PIOR ASSÉDIO SOFRIDO PELOS TRABALHADORES?

(MARQUE UM “X” EM APENAS UM ITEM)

  Assédio de agressão moral ou física no trabalho
  Assédio moral (palavras, comentários, insinuações ou outros que denigrem, depreciam, envergonham ou causam constrangimento
  Assédio sexual (investidas, insinuação ou pressão de colegas ou superiores)
  Assédio sofrido pela “pressão” para aceitar e celebrar ideologias promovidas pelo Programa de Equidade, Igualdade e Inclusão”
  Assédio sofrido pelas dinâmicas de grupo constrangedoras promovidas pela empresa
  Assédio sofrido pelo temor de assaltos e outras ações de marginais frente a sensação de impotência no percurso trabalho-casa e casa-trabalho ou mesmo dentro da empresa ou no horário de trabalho
  Assédio por ser pobre quando se sente excluído em função de não possuir o mesmo poder aquisitivo dos demais
  Assédio que não consta aqui (citar):
  Nenhuma das respostas anteriores ou não percebo nenhum assédio

Após palestra explicativa, o questionário acima foi distribuído entre os trabalhadores de quatro empresas privadas de pequeno a médio porte, dos ramos de construção civil, química, metalúrgica e comércio, respondido em escrutínio secreto e depositado numa urna. O cálculo dos percentuais foi feito mediante regra de três simples, após computação do número total de todas as respostas de todas as empresas amostradas em função do número de amostrados.

As organizações e populações amostradas possuem as seguintes características:

ATIVIDADE ECONOMICA QUANTIDADE NÚMERO EMPREGADOS POR SEXO TOTAL
HOMENS MULHERES 378
CONSTRUÇÃO CIVIL 01 120 15
INDÚSTRIA QUÍMICA 01 22 12
INDUSTRIA METALÚRGICA 01 60 15
COMÉRCIO VAREJISTA 02 12 122
TOTAL: 05 214 164

Como a ideologia que levou a alteração da CIPA foca no assédio sexual, importava que o número de mulheres fosse superior ao número de homens, fato que não foi possível, considerando que o número de homens é sempre maior do que o número de mulheres nas organizações em geral.

A computação dos dados foi realizada por meio do somatório total de cada resposta.

Total de respostas:

SEGUNDA A SUA PERCEPÇÃO, QUAL É O PIOR ASSÉDIO SOFRIDO PELOS TRABALHADORES?

(MARQUE UM “X” EM APENAS UM ITEM)

NÚMERO DE RESPOSTAS
Assédio de agressão moral ou física no trabalho 00
Assédio moral (palavras, comentários, insinuações ou outros que denigrem, depreciam, envergonham ou causam constrangimento 02
Assédio sexual (investidas, insinuação ou pressão de colegas ou superiores) 01
Assédio sofrido pela “pressão” para aceitar e celebrar ideologias promovidas pelo Programa de Equidade, Igualdade e Inclusão” 20
Assédio sofrido pelas dinâmicas de grupo constrangedoras promovidas pela empresa 05
Assédio sofrido pelo temor de assaltos e outras ações de marginais frente a sensação de impotência no percurso trabalho-casa e casa-trabalho ou mesmo dentro da empresa ou no horário de trabalho 275
Assédio por ser pobre quando se sente excluído em função de não possuir o mesmo poder aquisitivo dos demais 68
Assédio que não consta aqui (citar): 00
Nunca percebi nenhum assédio 07
TOTAL: 378

Assédio sofrido pelo temor de assaltos e outras ações de marginais frente a sensação de impotência no percurso trabalho-casa e casa-trabalho ou mesmo dentro da empresa ou no horário de trabalho:

72,75 %

Mais de setenta e dois por cento respondeu que o pior assédio é o terror de passar por um assalto. Uma tortura que o Estado brasileiro tem submetidos os trabalhadores, principalmente das áreas mais críticas, como bancos e transportes.

Assédio por ser pobre quando se sente excluído em função de não possuir o mesmo poder aquisitivo dos demais:

17,98 %

Outra questão que os governantes e empresários fingem que não estão vendo. Interessante que não há nenhuma preocupação das organizações em relação a esse fato. Nenhuma organização nunca promoveu nenhuma ação para prevenção desse tipo de assédio.  

Assédio sofrido pela “pressão” para aceitar e celebrar ideologias promovidas pelo Programa de Equidade, Igualdade e Inclusão”

5,2%

Algumas organizações estão deixando o foco de produzir com qualidade, segurança e saúde e meio ambiente para defender ideologias sociais. Isso destrói a meritocracia porque  promove os trabalhadores não pela competência ou currículo, mas pelo rótulo ideológico (negro, gay, mulher, esquerdista, direitista, etc). Em contrapartida, marginaliza os bons profissionais, que, frente as injustiças, desanimam e acabam deixando a organização ou fazendo só o “feijão com arroz”. Essa perda de talentos já está causando danos irreversíveis, principalmente em organizações públicas. Também, as constantes pregações ideológicas somadas a coação para que os trabalhadores aceitem as ideologias, muitas vezes contrárias aos seus princípios e valores, potencializam os danos à saúde mental dos expostos.    

Assédio sexual (investidas, insinuação ou pressão de colegas ou superiores):

0,26 %

Isso comprova que o assédio sexual é insignificante dentro das organizações e o foco deve ser redirecionado para os riscos potenciais.   

Podemos concluir que o enfoque para assédio sexual incluído na CIPA:

5.3.1 A CIPA tem por atribuição:

——————————

j) incluir temas referentes à prevenção e ao combate ao assédio sexual e a outras formas de

violência no trabalho nas suas atividades e práticas.

5.7.2 O treinamento deve contemplar, no mínimo, os seguintes itens:

h) prevenção e combate ao assédio sexual e a outras formas de violência no trabalho.

é puramente ideológico.

Não se fundamenta em critérios científicos. Basta realizar esse experimento em qualquer organização que certamente irá obter os mesmos resultados relacionados a disparidade entre o real e científico e o ideológico.

O clamor dos trabalhadores em relação aos riscos psicossociais é atribuído as ações de marginais e a sensação de impotência em função do cerceamento do direito de defesa imposto pelo Estado, fazendo com que ser assaltado e estuprado seja mais que um direito, mas um dever do cidadão. Dever esse, tão evidente nas mentes dos cidadãos que quando reagem a assaltos nunca prestam queixa. Sabem que ao registrar o B.O. serão presos. De vítimas passam a criminosos como em um passe de mágica. Torturas físicas e psicológicas promovidas pela ação de marginais parecem não ser assédio com potencial suficiente para que os profissionais de SST e gestores se preocupem. E a segunda causa de assédio é devido ao fato de ser pobre, frente a sensação de impotência do “querer e não poder”.

Mascarar pesquisas com questionários tendenciosos para obterem resultados que interessam as organizações não é muito honesto. Qualquer profissional que realizar réplicas desse experimento vai comprovar esse fato. Basta ser honesto e permitir a manifestação livre dos trabalhadores que a verdade aparece. 

Medidas preventivas, como promoção de melhores condições de transporte e moradia, orientações para prevenção de assaltos, pressão nos órgãos públicos por mais policiamento e mudança nas leis, atendimento psicológico, contratação de seguranças armados e armamento dos próprios funcionários, são necessários e requerem urgência. O temor dos assaltos, somados a tortura sofrida durante a ação e a sensação de impotência que isso causa, estão adoecendo a população. Uma pandemia que a cortina de fumaça do assédio sexual está encobrindo dentro das organizações.

Imagem de Martin Redlin por Pixabay

Artigos relacionados:

A evolução da CIPA

Cipeiros rebeldes e a estabilidade

O anacrônico Cronograma Eleitoral da CIPA

CIPA de estabelecimentos encerrados

Considerações sobre os riscos Ergonômicos Psicossociais