Como as empresas podem retornar em meio a pandemia? – Por Heitor Borba

 

Quase dois meses se passaram desde a proclamação da quarentena e ainda temos um gráfico ascendente de infectados e mortos. Como as empresas podem retornar suas atividades em meio a quarentena?

Com a pandemia e as dificuldades econômicas chegando, as empresas estão correndo atrás do prejuízo para não terem que fechar as portas. Se não for descoberta uma vacina (como ainda não foi para o HIV), teremos que conviver por muitos anos com esse problema. A estimativa para o início da descida da curva da COVID-19 é ainda para junho/2020, sendo o fim da pandemia previsto para setembro/2020. Mas são só estimativas. Não podemos nos dar ao luxo de simplesmente fechar tudo e ficar de quarentena, como ocorre nos países ricos. Por outro lado, se relaxarmos a quarentena, implementada através do isolamento e do distanciamento social, não teremos hospitais e nem cemitérios suficientes para atender a demanda (além das questões humanitárias). Como resolver esse dilema se a economia é inversamente proporcional a pandemia? O impacto dessa pandemia já é objeto de estudo de muitos pesquisadores.[1]

Enquanto isso a mídia aproveita para vender notícias adulteradas, como por exemplo: “Vidas ou empregos?” e “Vamos trocar caixões por empregos”. Não sou responsável pela ignorância dos outros. O fato é que quem estuda sabe e quem não estuda acredita no que os outros dizem. A resposta está no meio termo ou na elaboração e implementação de Planos de Prevenção a COVID-19. Longe das ideologias políticas, o fato é que mais 2 ou 3 meses de quarentena e 90% das empresas irão fechar suas portas para sempre.[2] O que as autoridades ainda não atentaram é que há como qualquer atividade econômica funcionar com nenhum ou quase nenhum risco para os trabalhadores, familiares e sociedade. E algumas empresas já estão se mexendo e desenvolvendo trabalhos muito bons para a prevenção desse mal. Claro que não existe almoço grátis e isso tem um custo: o produto acabado vai ficar mais caro e os lucros serão reduzidos. Mas é melhor do que encerrar as atividades.

Os Planos ou Programas de Prevenção a COVID-19 nas Organizações, direcionados aos trabalhadores e elaborados pelas empresas, devem possuir basicamente a seguinte estrutura:

MEDIDAS APLICADAS NA EMPRESA

a)    Instalação de túnel de higienização no acesso da empresa;

b)    Instalação de vestiário e chuveiros com sabonete antibactericida para retirada das roupas, objetos e sapatos da chegada, banho e troca das roupas por outras higienizadas;

c)    Higienização das roupas, objetos e sapatos de chegada durante o horário de trabalho (lavagem com água e sabão, vapor aquecido, aplicação de detergente, passar ferro, álcool gel, etc), por meio de empregado treinado (certamente esse empregado vai ter insalubridade);

d)    Distanciamento dos postos de trabalho e locais de permanência ou separação por meio de divisórias transparentes (divisórias mesmo e não aquelas enganações de acrílico que estão colocando nos supermercados);

e)    Instalação de equipamentos para aspiração e renovação do ar ambiente (ambientes fechados);

f)     Identificação, registro e higienização permanente das superfícies de contato de trabalhadores;

g)    Instalação de alojamento na empresa ou proximidades para os trabalhadores que residem com vulneráveis;

h)    Priorização da comunicação via rádio ou telefone;

i)     Instalação de aplicadores de álcool gel com acionamento por meio de pedal;

j)     Instalação de lavatórios com aplicadores de detergente líquido com acionamento por pedal;

k)    Marcadores no piso para distanciamento social em filas;

l)     Instalação de bebedouros com torneiras e copos descartáveis;

m)  Instalação de cartazes alusivos à prevenção;

n)    Pulverização dos locais de trabalho;

o)    Limitação de pessoas nos elevadores;

p)    Transporte higienizado e atendendo ao distanciamento por parte da empresa;

q)    Determinação de rodízios de trabalhadores nos locais de refeições e instalações sanitárias;

r)     Contratação de médico e enfermeiro para monitoramento dos trabalhadores;

s)    Elaboração do protocolo de manuseio, manipulação e higienização (objetos, ferramentas, alimentos, utensílios, etc).

MEDIDAS APLICADAS NO TRABALHADOR

a)    Higienização na chegada por meio da passagem pelo túnel de higienização, lavagem das mãos, retirada das roupas, objetos e sapatos da chegada para substituição e banho;

b)    Higienização das mãos de hora em hora;

c)    Utilização de protetores respiratórios N95/PFF2 sem válvula e outros EPI fornecidos pela empresa, com controle de troca e descarte, inclusive fora do ambiente de trabalho;

d)    Utilização de óculos vedados e controle de higienização, inclusive fora do ambiente de trabalho;

e)    Isolamento em alojamento na empresa dos trabalhadores que residem com vulneráveis;

f)     Treinamento de capacitação nos protocolos de higienização (empresa e residência/alojamento) e DDS diário para correção de possíveis desvios;

g)    Fiscalização permanente dos trabalhadores quanto ao cumprimento dos protocolos;

h)    Acompanhamento médico preventivo.

Os Protocolos da ANVISA não são direcionados a trabalhadores e não possuem foco ocupacional. Claro que essas são linhas gerais e devem ser adaptadas a cada empresa, conforme as características específicas de cada uma, de acordo com as possíveis exposições ocupacionais dos trabalhadores no âmbito da organização. Apenas dizer que a organização está seguindo os protocolos da ANVISA não significa muita coisa em termos de prevenção. Não precisamos acabar com a economia. Interessante que liberaram as atividades ditas essenciais sem nenhum critério. Para essas empresas, não houve nenhuma exigência para elaboração e execução de Planos ou Programas de Prevenção a COVID-19 na Organização. A liberação das atividades econômicas ditas essenciais sem exigência de um Programa de Prevenção, principalmente indústrias alimentícias e companhias de abastecimento de águas dos Estados, põe em risco não somente os empregados, mas toda a sociedade. A prevenção deve contemplar também o produto e não somente os empregados. E as demais empresas não podem funcionar porque vai comprometer os protocolos de prevenção. Isso não é estranho? Alguém duvida que o conjunto das medidas preventivas acima funcionam? Com essa estrutura, caso o Plano de Prevenção seja elaborado de modo a atender as características de cada empresa e implementado corretamente, pode ser aplicado a qualquer atividade econômica com segurança (inclusive salões de beleza, bares e restaurantes). E quem vai fiscalizar isso? A Secretaria de Inspeção do Trabalho, claro (por se tratar da saúde dos trabalhadores). Se for necessário tratar cada atividade econômica como sendo a ala vermelha de um hospital, que assim seja, ora. Se não há leitos, a empresa ou consorcio de empresas podem patrocinar hospitais de campanha para os trabalhadores infectados. O que não pode é parar tudo e instalar o caos no País com desemprego, saques, arrastões, assaltos, desordem e desestruturação dos poderes constituídos.

Sim, há como resolver o problema sem instalar o caos, acabando com as empresas e os empregos. Há como manter os empregos sem precisar trocar por vidas. Planos ou Programas de Segurança e Saúde com prescrição de Medidas Preventivas adequadas servem para isso. A quarentena por si só pode ser medida preventiva eficiente, mas já provou que não é eficaz (e não foi nem está sendo em nenhum país). Se os chamados países de primeiro mundo não possuem profissionais capacitados para elaborar um Programa de Prevenção a COVID-19 decente, nós possuímos. Basta nos contatar. Temos profissionais excelentes no mercado, os melhores do mundo. Não somos responsáveis pela incompetência dos países ricos e não precisamos imitá-los (se bem que nem todos são incompetentes). Essa incompetência brasileira está expondo de forma criminosa a população (com enganações de máscaras caseiras) e os profissionais de saúde (pelo não fornecimento dos EPI adequados ou completos). Coisa que qualquer Técnico em Segurança do Trabalho não muito preparado sabe como resolver. Infectologistas servem para dizer como ocorre a transmissão do vírus ou como as pessoas são expostas. O resto é com prevencionistas. Mesmo com o número de mortes aumentando o governo não muda a ineficiente política sanitária (deve ser porque é política e não medida preventiva). Não vejo ninguém falar de NR-06, NR-32, PPR, Fabricantes de EPI, POP, CIPA, SESMT, profissionais de Segurança e Saúde do Trabalho e outras coisas básicas essenciais para solução do problema. Interessante que esses governantes, tão preocupados com o povo, nunca se preocuparam com a curva dos assaltos, que aumenta a cada dia (e é tão grave quanto a da COVID-19). Nesse cenário, podemos fazer uma analogia entre dois engodos: máscaras caseiras e desarmamento (do cidadão, claro, considerando que o Estado não consegue ser soberano para os bandidos). Substituir ciência por ideologia é algo muito perigoso. Quando a crise impactar na segurança alimentar e de alimentos talvez nossos governantes percebam a necessidade de tocar a economia mesmo com o coronavírus. Sim, caso nada seja feito, vamos ter desabastecimento de alimentos. E os que chegarem à mesa da população estarão contaminados. Quanto a economia para sobrevivência das empresas, até agora não há um Plano Econômico para enfretamento da crise. Tudo que temos até agora é somente a prorrogação de prazos para pagamento de alguns impostos. Não há linhas de créditos, planos de empréstimos a juros baixos, redução de impostos, nada.

Mais uma vez os empresários vão pagar o pato pela roubalheira, interesses políticos e incompetência do Estado, que aplica sua soberania plena sobre os cidadãos ao mesmo tempo que não consegue exercer essa mesma soberania sobre os bandidos. O que temos é todo o aparelho do Estado destinado a perseguir empresas e cidadãos. Por que os governantes não estão se interessando? Por que os representantes do governo se recusam a conversar com os empresários? Por que ninguém do governo ainda não solicitou a elaboração de um Plano de Prevenção para as atividades econômicas com autoridades da área? Por que especialistas da área de prevenção (como a FUNDACENTRO, por exemplo) nunca foram contatados pelo governo para prescrição adequada da proteção contra a COVID-19 nas organizações? Burrice? Ideologia política? Briga pelo poder? Ofuscamento ou fanatismo do primeiro mundo? Outros interesses escusos? A quem interessa o caos causado pelo lockdown cego e extremista? Perguntas que ficam no ar.

Webgrafia:

[1]

https://blog.scielo.org/blog/2020/03/30/rap-acoes-e-estrategias-covid-19/#.XqtIcs6SmUk

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2020000400501

http://books.scielo.org/id/8kf92/pdf/rezende-9788561673635-08.pdf

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-76572020000100100&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

[2]

https://www.infomoney.com.br/mercados/coronavirus-o-que-muda-para-a-economia-apos-a-decretacao-de-pandemia/

https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2020/03/24/pesquisas-mostram-economia-global-devastada-por-pandemia-de-coronavirus.htm

https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/24/empresarios-coronavirus-o-que-dizem-criticas.htm

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