Dia 27 de novembro: Dia do Técnico em Segurança do Trabalho (Reflexões) – Por Heitor Borba.

 

Fonte da imagem: http://www.sisutecinscricoes.com.br/tecnico-em-seguranca-trabalho-2/

Confesso que sou um apologista da causa prevencionista e mais ainda da profissão denominada Técnico em Segurança do Trabalho.

Profissional por opção vejo com tristeza a enxurrada de pessoas sem noção e sem vocação que buscam as milhares de escolas técnicas existentes em nosso país para se tornarem Técnicos em Segurança do Trabalho não prevencionistas.

Na minha época, no inicio dos anos 80, este curso era oferecido aqui em PE apenas na Escola Técnica Federal (atual IFPE) e em caráter prioritário na FUNDACENTRO, com carga horária mais curta. A Escola Técnica permitia a inscrição em até cinco opções de cursos para o vestibular. Caso o candidato conseguisse uma boa nota, conseguiria se matricular no curso da primeira opção. Caso contrário, a escala de preferencia ia decrescendo até chegar à última opção escolhida, geralmente, “Segurança do Trabalho”, o curso mais detestável da Escola Técnica. Também podia ocorrer do candidato ser reprovado e não conseguir se matricular “nem em Segurança do Trabalho”, conforme comentários da época.

90% das inscrições ocorriam desta forma:

 

OPÇÃO

DESCRIÇÃO DO CURSO

1a TELECOMUNICAÇÕES (Curso top na época)
2a ELETROTÉCNICA (Outro curso menos top na época)
3a MECÂNICA (Curso topinho da época)

QUIMICA (Curso topinho na época)

4a EDIFICAÇÕES (Curso não top)

ESTRADAS (Curso não top)

5a SEGURANÇA DO TRABALHO (Coitado)

 

A classificação dos candidatos sempre acontecia nessa ordem. Crânio mesmo eram os que cursavam Telecomunicações. Os menos chiques cursavam Eletrotécnica ou Mecânica/Química. Segurança do trabalho era para os fracos e incompetentes. Lembrando que nessa época ainda estávamos engatinhando em termos de segurança ocupacional. A NR-09, por exemplo, era apenas uma página contendo as definições de riscos ambientais e havia somente 28 NR.

Foi nesse contexto que cursei Mecânica (Fiz o vestibular para Química, mas passei na segunda opção). Depois resolvi cursar Segurança do Trabalho e foi paixão a primeira vista.

A zombaria era geral em cima dos que ousavam cursar Segurança do Trabalho. “Ah! Né aquele curso que estuda cone de sinalização, plaquinhas e outras besteiras…? ” Exclamavam alguns sem dó nem piedade. Mas essa era a ideia que eles faziam de Segurança do Trabalho. Faltava divulgação. Foi aí que resolvi divulgar a área nas escolas e na empresa. Época difícil. Não havia Datashow nem computadores. A divulgação era feita por meio de um projetor de super 8 alugado do SESI que pesava uns 50 kg, slides de carretel e, pasmem, cartolina num cavalete, conhecido na época pelo nome de Flip-chart (Nossa! Que chique). Às vezes a fita super 8 prendia em alguma saliência do passador, parava na frente do facho de luz e pegava fogo. Era necessário desligar de imediato o projetor e apagar o incêndio com as próprias mãos. Mas as pessoas escutavam as palestras com certo encanto. Era algo novo chegando e modificando todo um contexto cultural. O filme top dessa época era: “El ribombes del tambores” (O rufar dos tambores). Um filme que comparava os riscos que os artistas circenses corriam com os que os trabalhadores estavam expostos. Os artistas corriam um risco calculado os trabalhadores não. “O risco que eles correm é planejado e calculado…”  e “Eles são pagos para arriscar, você não…” dizia a voz melancólica do narrador.

Os Inspetores (homens de confiança do empregador), depois Supervisores (funcionários com voz de comando no staff da empresa), depois a decadência: Técnicos em Segurança do Trabalho (Visto pelos funcionários e por alguns empregadores como um zé ruela qualquer). Pior que alguns Técnicos fazem jus a essa visão. Mas é consolador e motivante saber que alguns colegas se recusam a aceitar essa visão insignificante e extrapolam as expectativas da profissão, desenvolvendo trabalhos louváveis e dignos da mais alta premiação. Interessante é que todos os títulos concedidos na área são conferidos apenas a Médicos e Engenheiros. Técnicos nunca são lembrados. A começar pelas NR. “Profissional habilitado na área de segurança do trabalho”, nunca, jamais é o Técnico.

Hoje vejo com tristeza a enxurrada de profissionais não vocacionados que permeiam o mercado prevencionista. Esse pessoal não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe. Estão preocupados apenas com o salário no final do mês. Alguns até mandam e-mails criticando este trabalho. As “críticas”, escritas com uma ortografia de dar inveja a qualquer sem terra, versam geralmente sobre a quantidade de letras, a falta de figurinhas e a extensão dos artigos. As alegações são as de que não gostam de ler, detestam textos com muitas letras, etc   Profissional de Segurança que não gosta de ler está fadado ao insucesso, a mediocridade e a vergonha. “Medidas preventivas” como missas, cultos, mandingas, benzimentos e outros absurdos dão lugar a procedimentos, estudos e técnicas preventivas. Cá entre nós, não são poucos os empresários que adoram contratar profissionais com essas características.

Tem até TST que diz que não faz nada na empresa “porque essa área não tem o que fazer” como já escutei de alguns. Outros vão ao empregador e pedem alguma atividade porque “não aguentam mais ficar sem ter o que fazer”. E “essa área é muito monótona”. Numa total ignorância, exclusiva de quem nunca cursou nada, mas apenas frequentou uma escola.

Felizmente, nesses trinta e poucos anos de profissão, muita gente boa, competente e militante da causa prevencionista passou pela minha vida laboral. Dentre elas, Dra. Jandira Dantas, Dra. Joseline Campos, Dr. Astrogildo Carvalho, Dr. Erick Spinele, Dr. Hugo Muniz, Dra. Soraya (MTE); Hélio Lopes, Mauricio, Albertina, Sérgio Beltrão, Graco Medeiros, Dra Conceição (FUNDACENTRO); Os Técnicos de Segurança Amaro Coelho, Jaciara, Xavier, Waldeques, Joselito, Dorival Lúcio, Adilson (baixinho) e tantos outros que não lembro no momento. Alguns já se aposentaram e outros não se encontram mais entre nós, como é o caso do saudoso Xavier.  Essas pessoas desenvolveram sangue prevencionista.

O que me motiva é saber que ainda existem excelentes profissionais atuando em todo o País. Profissionais que merecem todo o meu respeito e o reconhecimento da sociedade.

Há uma inversão de valores em nossa sociedade muito perigosa porque tende a extrapolar para todas as esferas da atuação humana. Vai desde o caminhoneiro que dá cavalo de pau com o caminhão, passando pelo cipeiro que usa a estabilidade para fazer desordens, até o profissional que age de má fé com o patrão e seus colegas de trabalho. Não podemos deixar de lembrar também os empresários que possuem como único objetivo enriquecer a todo custo, passando por cima de tudo e de todos.

Um caso para refletir e nos ajudar a flexionar nossas ações de agora por diante.