A visão prevencionista – Por Heitor Borba
O prevencionista ocupacional possui visão diferenciada em relação aos demais profissionais. Pelo menos deveria possuir.
É interessante como um profissional de segurança e saúde ocupacional vê um ambiente de trabalho. Se você é um profissional dessa área e percebe o ambiente de trabalho da mesma forma que os demais profissionais, lamento dizer, mas há sérios problemas com a sua formação profissional. Peça seu dinheiro de volta e se matricule numa escola decente.
O termo “prevencionista” ainda não existe no dicionário da língua portuguesa[1] (não sei o que estão esperando para colocar). Mas o fato é que o Prevencionista Ocupacional possui atuação abrangente, conforme sua área de formação e especialização:
a) Engenharia de Segurança do Trabalho;
b) Medicina do Trabalho;
c) Higiene do Trabalho;
d) Ergonomia do Trabalho;
e) Fisioterapia do Trabalho;
f) Enfermagem do Trabalho;
g) Odontologia do Trabalho;
h) Psicologia do Trabalho;
i) Fonoaudiologia do Trabalho.
Ocorre que geralmente esses profissionais se tornam prevencionistas através da migração de outras áreas, advindos de novos cursos ou de especializações. Dificilmente se vê um Engenheiro de Segurança que tenha sido Técnico de Segurança ou um Médico do Trabalho oriundo da Enfermagem do Trabalho, por exemplo. Isso faz com que o prevencionista continue com a mesma visão da sua função anterior. Ou seja, não são prevencionistas escoceses.
Vamos tomar como exemplo as visões dos profissionais de produção e de prevenção em relação as fotos abaixo:
Gerente de produção: “O que tem de errado aí?” [sic]
Eu: Quase tudo (postura ergonômica incorreta; assento irregular propenso a acidentes; limalha de ferro e óleos sobre o piso; armazenagem de tubos soltos, podendo resvalar; ausência de prateleiras para colocar peças menores a fim de reduzir o esforço físico do trabalhador; dispositivo do fluido de corte improvisado; ausência de protetor auricular; luvas em tecido absorvendo óleos e sujeira das peças, dentre outras).
Na foto acima temos um operador de martelete ou rompedor elétrico aparentemente correto do ponto de vista da segurança e saúde ocupacional. No entanto, aos olhos de um prevencionista ocupacional há ainda algumas coisas erradas. Além do cabo elétrico sobre o piso, da tomada irregular, da utilização dos EPI (Botinas de segurança em couro vulcanizadas, com biqueira de aço, capacete com protetor facial e auricular acoplado, luvas antivibração, por exemplo), ainda há a necessidade de se questionar a eficiência dos EPI em relação a intensidade ou concentração dos agentes nocivos. Também, a eficácia desses EPI (Uso correto, ininterrupto, substituição em tempo hábil, higienização, etc). Por exemplo, utilizar de forma eficaz um protetor auricular com NRRsf de 12 dB (ineficiente) para proteção contra exposições a níveis de ruído de 100 dB (100 – 12 = 88) não é prevenção.
Esse trabalhador não suporta por muitas horas a pressão do protetor auricular sobre a haste dos óculos e consequente pressão sobre suas fontes. Os óculos de elástico reduzem esse desconforto. O ideal seria protetor facial e auricular acoplado ao capacete dotado por jugular. Considerando ainda que esse mesmo trabalhador realiza quebra acima da cabeça (com ferramenta de menor potencial, claro).
Claro que existem outras medidas preventivas, como rodízios de trabalhadores, umidificação dos escombros, aberturas de prismas de ventilação ou ventilação forçada, melhorar iluminação, ASO, Ordem de Serviços, treinamentos, etc
A visão limitada apenas aos fatores da produção pode ser percebida também em relação as ordens proferidas:
Profissional da produção:
-“Corta esse tubo metálico aí”;
Prevencionista:
“-Coloque o protetor facial, auricular, avental e luvas em raspa de couro, fixe o tubo no torno e corte esse tubo metálico aí”
Ou seja, com o prevencionista a ordem de segurança vem sempre antes da ordem para execução do serviço.
Infelizmente o que vemos na prática é uma demanda cada vez maior de profissionais habilitados e não qualificados como prevencionistas. Ainda temos profissionais que cedem seu lugar para outros[2] e as intromissões de profissionais de outras áreas que acham que entendem de segurança e saúde ocupacional.
Segurança e saúde ocupacional é uma área multidisciplinar que utiliza saberes de vários ramos do conhecimento humano com o objetivo de formar a ciência da prevenção. Boa prevenção ocupacional.
Webgrafia:
[1] O termo prevencionista
http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=prevencionista
[2] Profissionais que dão seu lugar para outros na empresa
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