O otimismo pode ser tão danoso quanto o pessimismo – Por Heitor Borba
Um pouco da dura, mas verdadeira e confiável realidade, numa era de crenças em mensagens e pensamentos (positivos e negativos).
A ideia de benção e maldição disseminada na idade média parece permear as mentes dos mais diversos profissionais da nossa sociedade. Sempre escuto dizer: “Pense positivo” e “Seja otimista”. Mas isso vale de alguma coisa? Qual o impacto dessa ideia na vida real?
Vamos analisar um caso típico onde essa possível influencia foi considerada:
Um colega de profissão estava pretendendo abrir uma empresa de consultoria e se lançar no mercado como empresário na área de consultoria em Segurança do Trabalho. Após ouvir alguns especialistas de plantão e amigos que queriam o seu bem, esse colega resolveu buscar a minha opinião a respeito. Como não gosto de ouvir opiniões, exceto, quando embasadas por dados ou informações confiáveis (que nesse caso deixa de ser opinião e passa a ser parecer), também nunca dou a minha opinião e fiz as seguintes observações:
a) Consultor é confiança profissional e quem faz o consultor é o cliente. Não se trata de títulos ou conhecimento;
b) É necessário obter um ou dois clientes iniciais antes de abrir a empresa para manter os custos e servir de referencia na aquisição de outros clientes;
c) A empresa deverá ser aberta inicialmente apenas se for realmente necessário. Caso contrário, deverá ser aberto apenas um cadastro na prefeitura como autônomo;
d) É necessário possuir ou ter acesso mediante parcerias a todos os recursos físicos (instrumentos, veículos, computadores, etc) e humanos (engenheiros, médicos, etc) a serem utilizados, conforme tipos de serviços oferecidos.
Ainda passei mais algumas informações úteis e fiquei em paz com a minha consciência achando que tinha ajudando o colega.
Algumas semanas depois o tal colega me procurou e disse que abriu a empresa, mas que se dependesse de mim não teria aberto. Alegou o colega que na ocasião eu apresentei muitas dificuldades ou mau gosto no negócio, influenciando-o negativamente. Falou também que as pessoas que torcem por ele o influenciaram positivamente, com estímulos e mensagens positivas sobre o sucesso do negócio. Diante dessa acusação, pedi desculpas explicando que não foi essa a minha intenção.
Tempos depois fui procurado por esse colega, pedindo emprego porque estava sem empresa, desempregado e cheio de dívidas. O negócio não deu certo. Não deu certo porque ele acreditou, foi otimista, deu ouvidos a opiniões e teve pensamento positivo. Caso tivesse sido realista, escutado um parecer sobre o caso e tivesse pensamento racional, certamente teria dado certo. Pelo menos teria mais chance de dar certo.
O fato é que as pessoas gostam de ser enganadas, detestam a verdade, adoram soluções mágicas, preferem acreditar e não querem enfrentar a dura realidade da vida. Por isso as mensagens de otimismo são tão aceitas socialmente, enquanto as mensagens de realismo são antipáticas e nunca são mencionadas.
Otimismo pode ser entendido como:[1]
“s.m. Atitude daqueles para quem tudo no mundo é o melhor possível, ou para quem a soma dos bens supera a dos males.
Tendência a ver tudo bem; tendência daqueles que se consideram satisfeitos com o atual estado de coisas.”
Já o pessimismo pode ser entendido assim:[2]
“s.m. Tendência natural para ver tudo pelo pior lado; quem tende a enxergar as coisas pelo lado desfavorável.”
Ou seja, são apenas utopias faladas para agradar gente que não foi ensinada a enfrentar a realidade, pensar, checar dados e informações e concluir sobre uma verdade. Deficiência essa que pode influir negativamente nas decisões organizacionais.
Agora vamos ao ponto:[3]
“Realidade: s.f. Característica ou particularidade do que é real (tem existência verdadeira).
Aquilo que existe verdadeiramente; circunstância ou situação real; verdade: sua vontade se tornou realidade.
A reunião daquilo que é real (coisas, fatos, circunstâncias etc.): tentava se esquivar da realidade nos vícios. Realista é quem tem espírito prático.”
Não existe otimismo ou pessimismo na dose certa. Isso é conversa de psicólogo que não tem o que fazer. A cada dia a psicologia perde espaço para a neurociência e futuramente será engolida por esta magnifica ciência. O realismo já é a dose certa. Se um profissional trabalha em algo com 50% de probabilidade de obter sucesso, essa probabilidade já é indicativa da dose de otimismo e pessimismo (50% para cada). Da mesma forma também não existe pessimismo ou otimismo vantajoso ou desvantajoso.[4] Tanto o otimista quanto o pessimista são na verdade dois crédulos iludidos por conversa de gente que não pensa.
Outro erro é confundir otimismo ou pessimismo com estado de ânimo. Conhecendo a realidade o profissional empenhará maior ou menor esforço na conquista do objetivo. Uma pessoa acometida por depressão não vai se curar ou se animar com mensagens ou pensamentos otimistas. Estudos científicos comprovam que os nossos profissionais vivem oprimidos por causa da violência urbana, do desemprego, das inseguranças, da competitividade e de questões relacionadas ao sucesso profissional.[5] Essa situação mantida por longo tempo causa inicialmente desanimo podendo evoluir posteriormente para um estado de depressão. Fato que pode ser observado no alto número de profissionais atuando de forma descomprometida e sem qualidade nos serviços prestados.
Pessoas realistas são confiáveis porque passam informações verdadeiras, fundamentadas com base em dados verdadeiros, mesmo que seja apenas estatisticamente, mas são informações verdadeiras. Termos como “eu acho” e “eu acredito” não podem fazer parte do vocabulário de um profissional, que deverá ser sempre realista, nunca otimista ou pessimista. Profissionais lidam com bens físicos e humanos e não podem jogar com a vida e o patrimônio dos outros.
Webgrafia:
[1] Otimismo
http://www.dicio.com.br/otimismo/
[2] Pessimismo
http://www.dicio.com.br/pessimismo/
[3] Realidade
http://www.dicio.com.br/realidade/
[4] Estudos científicos sobre opressão dos profissionais brasileiros
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-54192004000300001
[5] Outros artigos pesquisados
http://www.marisapsicologa.com.br/pessimismo.html
http://www.psicologiaracional.com.br/2011/07/pesquisa-mostra-lado-negro-do-otimismo.html
http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/50/artigo182871-1.asp
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-37722010000500011&script=sci_arttext
[6] Artigos relacionados
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