Gestão preventiva dos Comportamentos Críticos – Por Heitor Borba

 

A Pirâmide de Frank Bird foi criada para estudos estatísticos de perdas na produção, mas também é utilizada como Pirâmide de Acidentes,[1] apesar de largamente divulgada em Blogs diversos, pouco se fala sobre as ações preventivas a serem implementadas em sua base, foco de desencadeamento de todos os eventos posteriores indesejáveis.

Essa ferramenta resulta de estudos estatísticos realizados na década de 60 pelo pesquisador da área de segurança e controle de perdas Dr. Frank E. Bird Jr. Analisando 1.753.498 acidentes industriais ocorridos em 297 empresas, distribuídas em 21 atividades econômicas industriais diferentes e população de estudo de 1.750.000 trabalhadores e exposição aos riscos de 3 bilhões de homens-horas. Daí resultou a Pirâmide de Bird:[2]

FOTO PIRAMIDE DE BIRD

Posteriormente foi incluída a base referente aos Comportamentos Críticos:

FOTO PIRAMIDE DE BIRD2

Utilizada como ferramenta de gestão para prevenção de acidentes e incidentes (prevenção de perdas), promove a compreensão dos fatores sequenciais que precederam o acidente ou incidente até a ocorrência do sinistro. Os sinistros são considerados como fatores de perdas na produção.

A Pirâmide de Acidentes demonstra que o acidente é o resultado direto de um perigo que não foi eliminado. A sequência tem início nos Comportamentos Críticos que causam os Incidentes, quantificados mediante estudo em campo e geralmente registrados em altos números de ocorrências (bem maiores que os incidentes). Estudos estatísticos realizados comprovaram que para cada acidente grave ou fatal precederam 600 Incidentes, 30 perdas materiais por acidentes sem vítima ou quase acidentes e 10 lesões leves. Isso indica que todo acidente grave ou fatal que ocorre deixa rastro ou aviso de sua futura ocorrência. Esses avisos que precedem os acidentes graves devem ser tratados por meio da eliminação dos perigos. Ou seja, um perigo tem potencial para causar no mínimo um quase acidente. Mas pode causar também uma fatalidade ou morte do trabalhador. Pela Pirâmide percebemos que a probabilidade de ocorrer uma fatalidade é bem menor do que a probabilidade de ocorrer um incidente (1/600), no entanto o potencial de perda atribuído à fatalidade é bem maior do que o atribuído ao incidente. Na verdade, se a base da Pirâmide não está sendo controlada, indica que a fatalidade ainda não ocorreu por pura sorte ou acaso, levando-se em conta que a proporção estatística entre um evento e outro corresponde à sequência 1=>10=>30=>600.

Considerando o acidente como um evento indesejável que resulta em dano físico a pessoa e a propriedade e em atrasos na operação, temos um novo conceito para o controle de perdas.

Alguns aspectos básicos a serem considerados na gestão de riscos:

a)    A técnica de análise e investigação de acidentes é ferramenta fundamental para identificação das causas de todos os acidentes, inclusive, os acidentes sem lesão;

b)    A gestão de riscos deve reduzir as perdas de modo a beneficiar a produção;

c)    A alta direção deve está comprometida integralmente com a gestão de riscos;

d)    A gestão de riscos deve iniciar pela base da pirâmide.

 

GESTÃO PREVENTIVA DOS COMPORTAMENTOS CRÍTICOS

Uma gestão eficaz de Segurança e Saúde Ocupacional deve se preocupar fundamentalmente com a base da Pirâmide de Acidentes. Para isso, o gestor deve conhecer, identificar e definir as medidas preventivas necessárias e suficientes aplicáveis.

O foco da gestão deve ser os Comportamentos Críticos, desencadeadores dos incidentes (controle de entradas), identificando e agindo sobre as situações que estejam abaixo do padrão, com o objetivo de minimizar ou neutralizar os perigos.  Esse controle deve ser realizado através de planejamento, avaliação e gestão (planejar, executar, auditar e corrigir) de todos os riscos ocupacionais e ambientais, que são as áreas que temos controle. Com ações efetivas aplicadas à base da Pirâmide, responsável pelo disparo da sequência de eventos indesejáveis, é possível evitar a construção dos patamares posteriores da Pirâmide, que configuram as áreas sem controle.

Os riscos controláveis são:

a)    Físicos;

b)    Químicos;

c)    Biológicos;

d)    Mecânicos/De acidentes;

e)    Ergonômicos/Psicossociais.

Mas na base da Pirâmide encontraremos apenas os Riscos Comportamentais ou Comportamentos Críticos, que podem ser reconhecidos como Riscos Psicossociais. Os Riscos Psicossociais podem ser decorrentes de falhas na concepção, organização ou gestão do trabalho, como também, podem ter origem de um contexto problemático, seja social, ocupacional ou mesmo familiar. Os efeitos negativos podem impactar psicologicamente, fisicamente e socialmente no trabalhador. Estresses, esgotamentos e depressão são sintomas comumente verificados em trabalhadores expostos aos Riscos Psicossociais. Claro que esses sintomas podem gerar os Comportamentos Críticos, que por sua vez geram os perigos, que por sua vez geram os incidentes ou mesmo, os acidentes:

Riscos Psicossociais => Comportamentos Críticos => Perigos => Incidentes + Acidentes;

Mais exemplos de Riscos Psicossociais geradores de Comportamentos Críticos:

a)    Excesso de trabalho;

b)    Instruções contraditórias, confusas ou sem clareza;

c)    Gestão não participativa;

d)    Falta de proficiência ou capacitação para execução da atividade;

e)    Gestão instável, com mudanças frequentes, gerando insegurança no trabalhador;

f)     Deficiência na comunicação;

g)    Ausência de apoio materiais e psicológico por parte dos colegas e superiores;

h)    Assédio psicológico ou sexual;

i)     Violência gerada pela ação de marginais.

Comportamentos Críticos são comportamentos adotados pelos trabalhadores e relacionados aos incidentes observados. Os Comportamentos Críticos também podem ser positivos, dependendo das consequências em relação ao objetivo da gestão.[3] A análise dos Comportamentos Críticos pode ser realizada através da Técnica de Análise de Conteúdo Temática,[4] com análise prévia, leitura flutuante e exaustiva, estudo dos dados, formatação de formulários para registro, classificação e interpretação dos dados e informações, com proposta inferenciais de acordo com o quadro teórico. Os Comportamentos Críticos, apesar de serem entes que variam de situação para situação, são sempre em número superiores aos incidentes (600). Portanto, não são difíceis de serem observados.

Abaixo, fluxograma para desenvolvimento da Técnica de Análise de Conteúdo Temática.

FOTO FLUXOGRAMA

Simplificando, devem ser observados, registrados, analisados e investigados todos os casos de Comportamentos Críticos, como por exemplo:

a)    Permanência de trabalhador em altura com cinto de segurança desacoplado do ponto de engaste;

b)    Trabalhador que joga ferramentas ou materiais para outro colega ou em queda livre de forma intencional;

c)    Competição perigosa na produção;

d)    Brincadeiras e distrações perigosas na produção;

e)    Uso incorreto do EPI ou do EPC;

f)     Descumprimento de procedimentos de segurança;

g)    Desatenção, esquecimentos, etc

Para cada Comportamento Crítico deve haver uma ação preventiva necessária e suficiente, como por exemplo:

a)    Treinamento, fiscalização, compensação ou punição;

b)    Substituição de dispositivos de segurança;

c)    Medidas médicas;

d)    Elaboração e implantação de um Programa de Comportamento Seguro com gestão participativa.

O controle eficaz dos Comportamentos Críticos evitará a construção do próximo patamar da Pirâmide de Acidentes: O patamar dos INCIDENTES.   Para isso, pode ser utilizada a planilha 5W2H[5] ou outra ferramenta.

As possíveis falhas da Gestão de Riscos são:

a)    Procedimentos inexistentes, desatualizados ou deficientes;

b)    Instrumentação ou equipamento inadequado, inoperante ou ineficaz;

c)    Conhecimento insuficiente ou desconhecimento dos riscos agregados;

d)    Prioridades conflitantes;

e)    Sinalização inadequada;

f)     Discrepâncias entre teoria e prática;

g)    Ferramentas inadequadas;

h)    Comunicação deficiente;

i)     Lay out inadequado;

j)      Situações antiergonômicas.

O acidente resulta da combinação de muitas variáveis que contribuíram para a geração do perigo. Ou seja, é o resultado de uma dinâmica complexa que soma vários eventos sequenciais, interligados ou não, e ocorridos no tempo. De forma geral, os eventos geradores do perigo partem de três componentes:

TRABALHADOR

Aspectos comportamentais.

OPERACIONAL

Aspectos físicos relacionados à gestão da produção e às condições ambientais e ocupacionais de trabalho.

ORGANIZACIONAL

Correspondem as falhas relacionadas à gestão de Meio Ambiente, Segurança e Saúde Ocupacional.

Então, de forma bem básica, a primeira coisa a fazer é:

a)    Estudar os Relatórios de Análise e Investigação de Acidentes a fim de identificar possíveis Comportamentos Críticos causadores ou contribuintes da ocorrência do acidente;

b)    Realizar nova análise dos acidentes por meio de ferramentas mais eficazes, como por exemplo, Espinha de Peixe, Árvores de Falhas, 5W2H, etc a fim de melhor visualizar os elementos causadores ou contribuintes do acidente, inclusive, os Comportamentos Críticos envolvidos;

c)    Observar e registrar os Comportamentos Críticos dos trabalhadores, para posterior gerenciamento conforme especificado neste artigo.

De posse desses dados, seguem-se as demais etapas, conforme definidas neste artigo.

Os Comportamentos Críticos devem ser reconhecidos, caracterizados, quantificados e dimensionados em função do potencial de perigos agregados. Após isso devem ser definidas e aplicadas medidas preventivas necessárias e suficientes para redução ou eliminação dos perigos agregados, tanto no meio físico (ambiente, máquinas, equipamentos, ferramentas), quanto no trabalhador (treinamento, fiscalização, compensação, punição, tratamento neuropsíquico).

Webgrafia:

[1] Pirâmide de Acidentes

http://www.processos.eng.br/Portugues/PDFs/evolucao_da%20seguranca_do_trabalho.pdf

http://www.ufjf.br/ep/files/2014/07/2010_3_Pedro-Roberto.pdf

[2] Pirâmide de Acidentes com a base “Comportamentos Críticos”

 http://qssmanapratica.blogspot.com.br/2010/08/piramide-de-acidentes-perda.html

[3] Comportamentos Críticos

http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/conpeex/pivic/trabalhos/LAIS_ARA.PDF

http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abpa/article/viewFile/17076/15875

http://academico.escolasatelite.net/system/application/materials/uploads/79/guia-de-estudo-03.pdf

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722009000300011&script=sci_arttext

[4] Técnica de Análise de Conteúdo Temática

http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n5/a19v57n5.pdf

http://www.scielo.br/pdf/rac/v15n4/a10v15n4.pdf

http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnEPQ/enepq_2013/2013_EnEPQ129.pdf

https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0CCEQFjAAahUKEwivt_SSuI3JAhXJiZAKHYGIAL8&url=http%3A%2F%2Fwww.ies.ufpb.br%2Fojs%2Findex.php%2Fies%2Farticle%2Fdownload%2F10000%2F10871&usg=AFQjCNFT3og4x-I8phzs9ZiArIf9LYi_vg&bvm=bv.107467506,d.Y2I

[5] 5W2H

http://heitorborbainformativo.blogspot.com.br/2011/04/heitor-borba-informativo-n-0033-maio.html

http://www.sobreadministracao.com/o-que-e-o-5w2h-e-como-ele-e-utilizado/

http://www.portal-administracao.com/2014/12/5w2h-o-que-e-e-como-utilizar.html

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