Linhas de vida meia segurança “Ta…ba…jara” – Por Heitor Borba.

Qualquer prevencionista sabe que para trabalhos em altura não pode haver falha na segurança, mas algumas linhas de vida horizontais são projetadas e instaladas para inglês vê (de baixo). São as linhas de vida “meia segurança Tabajara”.

Na NR-35 encontramos:

35.5.4 Quanto ao ponto de ancoragem, devem ser tomadas as seguintes providências:

a) ser selecionado por profissional legalmente habilitado;

b) ter resistência para suportar a carga máxima aplicável;

c) ser inspecionado quanto à integridade antes da sua utilização.

Sistemas de ancoragem: componentes definitivos ou temporários, dimensionados para suportar impactos de queda, aos quais o trabalhador possa conectar seu Equipamento de Proteção Individual, diretamente ou através de outro dispositivo, de modo a que permaneça conectado em caso de perda de equilíbrio, desfalecimento ou queda.

Sistema de ancoragem é, portanto, o ponto onde o cinto de segurança é fixado (argola, grampo, linha de vida, etc) através de talabarte, trava-quedas ou diretamente na argola do cinto.

Analisando alguns projetos e instalações de linhas de vida horizontais para trabalhos em altura em obras de construção civil, não somente aqui em PE, mas também em outros Estados da Federação, fiquei assustado com o descaso dos engenheiros elaboradores dos projetos e dos profissionais responsáveis pelas instalações desses dispositivos.

A maioria das linhas de vida instaladas nos canteiros de obras é executada conforme figura abaixo:

foto linha de vida 01

Não é difícil perceber as falhas desse projeto:

a) Não contempla os recortes ou contornos da laje;

b) Serve apenas para realização de serviços na periferia da laje/assoalho, como os serviços de elevação da alvenaria periférica;

c) Não serve para os serviços de montagem de lajes porque não contempla todos os pontos da área de montagem dos assoalhos (internos);

Os serviços de montagem de lajes maciças possuem as seguintes etapas:

1) Emendas das ferragens dos pilares na laje concretada (Uso de linha de vida na periferia);

2) Instalação das formas e concretagem dos pilares por meio de andaimes (algumas empresas preferem concretar os pilares junto com a laje a ser construída) – Uso da linha de vida na periferia. Os serviços de concretagem dos pilares antes da laje devem ser realizados sobre andaimes dotados por guarda-corpos. Nos serviços periféricos os trabalhadores devem fazer uso da linha de vida;

3) Instalação das formas das vigas horizontais presas nas cabeças do pilares e dos escoramentos (Uso da linha de vida na periferia da laje);

4) Instalação do assoalho da laje (Uso da linha de vida em todos os pontos da área do assoalho);

5) Fechamento das aberturas centrais do assoalho destinadas a passagem de escadas, shafts, poços elevadores, ventilação, etc (Uso da linha de vida em todos os pontos da área do assoalho);

6) Instalação dos guarda-corpos periféricos presos no assoalho e nas formas das vigas periféricas, na periferia e nas aberturas centrais do assoalho  (Uso da linha de vida em todos os pontos da área do assoalho);

7) Concretagem da laje.

Os serviços das lajes de blocos ou cabaças possuem as seguintes etapas:

1) Emendas das ferragens dos pilares na laje concretada (Uso de linha de vida na periferia);

2) Instalação das formas e concretagem dos pilares por meio de andaimes (algumas empresas preferem concretar os pilares junto com a laje a ser construída) – Uso da linha de vida na periferia. Os serviços de concretagem dos pilares antes da laje devem ser realizados sobre andaimes dotados por guarda-corpos. Nos serviços periféricos os trabalhadores devem fazer uso da linha de vida;

3) Instalação das formas das vigas horizontais presas nas cabeças do pilares e dos escoramentos (Uso da linha de vida na periferia da laje);

4) Instalação das longarinas ou nervuras e dos blocos ou cabaças para formação da laje a ser concretada. Algumas empresas assolham sob os blocos ou cabaças como se fosse laje maciça. Esse procedimento deixa o serviço bem mais seguro. (Uso da linha de vida em todos os pontos da área do assoalho);

5) Fechamento das aberturas centrais do assoalho destinadas a passagem de escadas, shafts, poços elevadores, ventilação, etc (Uso da linha de vida em todos os pontos da área do assoalho);

6) Instalação dos guarda-corpos periféricos presos no piso e nas formas das vigas periféricas, na periferia e nas aberturas centrais do assoalho  (Uso da linha de vida em todos os pontos da área do assoalho);

7) Concretagem da laje.

Ou seja, a área de trabalho é constituída por toda área da laje a ser concretada:

foto linha de vida 02

Percebemos que com esse projeto há pontos descobertos pela linha de vida, como as áreas próximas ao contorno da laje, pontos utilizados na instalação das vigas horizontais nas cabeceiras dos pilares e nas áreas centrais utilizadas para montagem do assoalho.

Para solucionar essa falha há necessidade do engenheiro mecânico responsável pela elaboração do projeto calcular a inclusão de linhas de vida transversais móveis e fixas nas linhas periféricas:

foto linha de vida 03

Ou

 

foto linha de vida 05

Considerando que em nenhum momento da montagem da laje (instalação de assoalho, nervuras, longarinas, blocos ou cumbucas/cabaças) o trabalhador pode permanecer desconectado da linha de vida, há necessidade de uso ininterrupto desse EPC. E não somente quando da realização de serviços na periferia da edificação.

As distancias entre as linhas de vida devem ser calculadas de modo que o trabalhador possa passar de uma linha para outra sempre prendendo um dos ganchos do talabarte na linha de vida da frente para depois soltar o gancho da linha de vida que pretende deixar.

Claro que esse sistema deve ser dimensionado, com tubos e cabos reforçados para a quantidade de trabalhadores em função do impacto de queda, bem como, a necessária protensão da linha, sem esquecer as demais recomendações da NR-35.

Na foto abaixo, um exemplo de linha de vida irregular (Além de outras irregularidades também):

foto linha de vida 06

foto linha de vida 04

Como vemos, não há linhas de vida para trabalhos na área interna da laje.

Agora vão dizer que eu quero ensinar engenheiros e blá, blá, blá, et cetera. Primeiro eles devem fazer um serviço decente para depois conversarmos.

Verifique sua linha de vida instalada a fim de constatar se a mesma contempla todos os posicionamentos dos trabalhadores exigidos na realização das atividades em altura. Caso não contemple, estude o projeto e veja se há necessidade de adequação do projeto ou do dispositivo instalado. Boa prevenção.

Webgrafia:

http://portal.mte.gov.br/legislacao/norma-regulamentadora-n-35.htm